Coyote Valvulado solta seu “Pássaro Louco” e voa alto no blues raiz
- Tião Folk
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Por Tião Folk, 25/11/2025

Imagine um pássaro que voa com asas de gaita marine band clássica, bico afiado de críticas sociais e rabo de rock'n'roll totalmente distorcido. Não, não é uma mutação do Zika vírus, é o Coyote Valvulado, a banda que transformou o blues raiz em uma festa de bar com enterro ao vivo, jumentos engravatados e agora, um single que parece saído de uma ressaca poética depois de muito conhaque.

Em 28 de agosto de 2025, eles soltaram "Pássaro Louco", o primeiro gostinho de um álbum ao vivo gravado no Instituto SENAC Copacabana, e o bicho pegou: o track é um hino para os voadores incansáveis da vida, daqueles que enfrentam tempestades com cachaça na mão e alma de asas impermeáveis. Pássaro Louco cimenta ainda mais seu espaço na cena independente carioca. A faixa marca a estreia da parceria com a SAS Produções, evidenciando uma nova fase dessa locomotiva musical que mantém firme o espírito da estrada.
A faixa, escolhida como carro-chefe do vindouro disco que resgata pérolas de álbuns como Coyote Valvulado I, Velorio no Bar e o EP Jumento Fardado, chegou com o selo da SAS Produções, a estreia da trupe em uma parceria que soa como um divórcio amigável com a independência total. Gravado durante uma aula prática de operação de áudio (porque, afinal, quem precisa de estúdio chique quando se tem professor e microfones emprestados?), o som captura a essência da banda: Oswaldo Coyote na voz rouca e gaitas que choram como um ex-namorado bluesman, Rod Wolf nas guitarras que uivam como lobos famintos, Rogerinho DL no baixo que segura a carroceria dessa locomotiva maluca, e Ramon Cilirio na bateria, martelando o ritmo como se o apocalipse fosse só mais um show na Lapa.
Mas o que faz "Pássaro Louco" voar alto? É aquela metáfora genial de um bicho alado que não para nem com pés calejados pela estrada musical: alegrias, espinhos, noites de pinga e madrugadas frias onde a redenção vem em forma de solo de gaita.
"Pássaro louco é todo aquele que voa mesmo com os pés cansados da jornada que a música oferece"
E tem mais: o disco completo trará participações da cantora Simone Sas, da Dedo de Bruxa, em "Remédio" e "Dentro da Cabeça do Homem", provando que o blues carioca é melhor quando temperado com bruxaria feminina. É vintage e voraz, tranquilo e revolucionário ou, como a banda resume, "dançante, atual, viajante". Em resumo, é o som que te faz balançar o esqueleto enquanto questiona se a vida é uma decolagem ou um pouso forçado.
Não é de hoje que o Coyote Valvulado enlouquece os fiéis do blues raiz. Formada por quatro "maquinistas" que já rodaram desertos e neves da cena underground, a turma vem de uma linhagem de shows que misturam groove sujo com letras que cutucam o establishment como um gaita no calo.

Lembra do EP Jumento Fardado, de 2021? Produzido em Londrina durante a pandemia (porque nada grita "folk blues acústico" como isolamento social), o trampo estreou no selo Astronauta e Universal Music com faixas como a homônima, uma parceria de Oswaldo com Alessandro Prog que pinta jumentos de terno criticando a hipocrisia política.
Enquanto o mundo trancava as portas e aprendia a fazer panqueca online, nosso frontman da voz rouca filosofou:
"A estrada da vida... vem a mão do destino e desenha curvas e atalhos"
Influências? De Raul Seixas a Little Walter, passando por Cazuza e Jimi Hendrix, uma salada que soa orgânica, com voz rascante e gaita que parece saída de um boteco assombrado.

Antes disso, Velorio no Bar (2014), gravado no Centro de Referência da Música Carioca, virou hit radiofônico até em rádios gringas, com sua faixa-título pintando um funeral regado a birita que é hilário e melancólico ao mesmo tempo.

E o primeiro disco, de 2010, rendeu manchetes no O Globo e elogios da Revista Back Stage. São mais de uma década de estrada, com passagens por antros sagrados como O Pecado Mora ao Lado, Duck Walk Pub, Festival das 100 Bandas (o maior underground do Brasil, onde eles voltam em 2025 como convidados VIP) e até o Blind Dog Blues Festival.
"O blues é o grito da dor transformado em arte"
Postou a banda recentemente no Instagram, provando que eles não só tocam a ferida, eles a curam com riffs e rimas afiadas.

E os shows? Ah, esses sim são o verdadeiro voo louco. Recentemente, no Áudio Rebel em 2 de novembro, o Coyote transformou o palco do dia de finados em um velório animado, com o público suando e gritando como se o fim do mundo fosse só o bis. Os amantes do blues raiz saem dali com os ouvidos zumbindo e o coração acelerado, é o tipo de apresentação que faz você jurar que viu o espírito de Robert Johnson pedindo uma dose no balcão.

A banda, que começou lá em 2010 e agora rola macia como uma engrenagem oleada, conquista plateias com letras divertidas sobre anjos de vidro, hotéis na beira da estrada e cabeças masculinas cheias de demônios. É rock com alma de blues, distorção que abraça e uma disposição que parece vinda de uma poção caseira.
Se você acha que isso é só papo de release, marque na agenda: o Coyote é presença confirmada no Festival Vaca Brava Rock, em São Thomé das Letras, no dia 13 de dezembro, um paraíso místico onde o blues vai dialogar com as pedras que cantam.

No Rio, os cariocas têm dose dupla: 19 de dezembro no Centro Cultural Diversa, e 20 no Empório Encantado. Quem estiver lá vai ter o privilégio de ouvir "Pássaro Louco" ao vivo, com Oswaldo urrando versos que te fazem querer espalhar as asas e ignorar o alarme do celular. Plataformas digitais já fervem com o single (distribuição Tratore, mixagem impecável de Ian Negrone e cia.), mas nada bate o suor do ao vivo, é redenção em forma de setlist.

Em um mundo de streams frios, o Coyote Valvulado lembra que o rock é para os pássaros loucos: voe alto, cante a dor e dance na chuva. Ou, como diria Oswaldo, "Deus nos fez pássaros com grandeza para saber sobre mágoas e tristezas". Prepare as asas, a locomotiva está chegando, e ela não freia para quem fica no chão.

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