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O Retorno Triunfal da PIC NIC: Da Pausa Inesperada ao Eletrizante "Volta"

Atualizado: 28 de ago.

Por Natália Benevides, 26/08/2025 às 10:45

banda pic nic com álbum volta

No efervescente cenário do indie rock carioca, poucas bandas carregam uma história tão marcada por persistência e reinvenção quanto a PIC NIC. Formada em 2001 no Rio de Janeiro, o grupo surgiu como uma força fresca na cena alternativa, reunindo Guidi Vieira nos vocais, Miguel Afonso e Paulo Gehm nas guitarras, Flavio Chokkito no baixo e Robson Riva na bateria – embora a formação inicial contasse com Vitor Peixoto na bateria, substituído por Riva anos depois. Com raízes no início dos anos 2000, a banda rapidamente conquistou espaço com álbuns como o autointitulado Pic Nic (2003) e Feito em Casa (2004), que capturavam a essência do rock independente brasileiro, misturando melodias cativantes com letras introspectivas. Eles acumularam mais de 150 shows pelo país, compartilhando palcos com nomes como Cachorro Grande e Vespas Mandarinas, mas em 2007, um hiato inesperado silenciou o grupo por quase 15 anos, deixando fãs órfãos de sua energia única.


O hiato, que muitos viram como o fim definitivo, foi motivado por uma combinação de fatores pessoais e profissionais, incluindo a interrupção de um processo criativo que estava em pleno vapor. "Era algo que [Miguel] lutou para fazer à época, lá quando a banda já estava quase acabando, mas não foi possível", refletiu Guidi em entrevista recente, destacando como o material inacabado de 2007 se tornou o catalisador para o retorno.


Em 2021, no auge da pandemia, a banda ressurgiu de forma orgânica e sincronizada. "Retornamos em 2021 de uma forma um pouco inesperada para todos, mas foi curioso porque nós cinco, ao mesmo tempo, quisemos – inclusive eu e Chokkito, o baixista, chegamos a comentar isso um com o outro apenas alguns meses antes", contou Guidi, enfatizando o caráter espontâneo e harmônico da reunião.

capa do álbum 2007

O álbum "2007", lançado naquele ano, serviu como ponte entre passado e presente: ele resgatou gravações antigas, regravou três faixas e acrescentou oito novas, marcando a estreia da PIC NIC na era do streaming. Guidi observou a transformação da cena musical no Rio, que outrora parecia um deserto após o fim de várias bandas, mas agora pulsa com produções independentes de alta qualidade técnica, impulsionadas pelas redes sociais. O retorno foi celebrado com shows, como o de janeiro de 2022 na Audio Rebel, e colaborações em singles, incluindo "Eletrônica 2.0" com Beto Bruno e "Ano-Novo 2.0" com Thadeu Meneghini, reforçando laços com velhos aliados da cena rock.


Ponto central nesse renascimento está o vocal marcante de Guidi Vieira, uma das assinaturas mais distintivas da PIC NIC. Com um timbre que evoca o new wave dos anos 80, Guidi entrega interpretações com afinação impecável e uma intensidade emocional que eleva as composições do grupo a outro patamar. Em resenhas, seu estilo é frequentemente elogiado por adicionar camadas de profundidade, como em faixas onde sua voz dialoga com sintetizadores e guitarras distorcidas, criando um contraste que é ao mesmo tempo melódico e provocador.

guidi cantando

Guidi, que mantém um projeto solo autoral desde 2016, traz para a banda uma bagagem pessoal rica, influenciada por sua trajetória como uma das vozes femininas proeminentes no rock independente brasileiro. "Acho que foi tudo bem harmônico, bem sincronizado. E espontâneo, também", disse ela sobre o retorno, revelando uma liderança intuitiva que guia o grupo sem forçar hierarquias. Sua presença não é apenas técnica; é narrativa, como visto em eventos como o Akasha Rock Fest, que celebra mulheres no rock, onde a PIC NIC se apresentou ao lado de bandas como Noise Under Control, destacando o papel de Guidi como ícone de empoderamento na cena.


O ápice desse retorno culminou no álbum Volta, lançado em 28 de maio de 2025 pela Novevoltz Records em parceria com a Bonde Music, o primeiro de material inteiramente inédito desde a reunião. Gravado no estúdio Marini por Mauro Araújo e produzido pelos guitarristas Miguel e Paulo, o disco compacto, com oito faixas, reflete o amadurecimento da banda durante o hiato.


Composto remotamente durante a pandemia, Volta expande o indie rock característico da PIC NIC, flertando com disco music, rap e folk, em uma fusão que Miguel descreve como "um caleidoscópio" de influências acumuladas ao longo dos anos. Destaques incluem a colaboração com o rapper Ramonzin em "Essa fala", que injeta elementos de rap em meio a guitarras pulsantes, e a faixa de encerramento psicodélica "Você não me engana (Apocalipse Radio)".


A banda vai lançar ainda em 2025 os clipes de "Bem-Vindo" e "Volta"

O single Pobre de mim, lançado como aquecimento, mistura indie com toques de trap, explorando temas como admiração, inveja e conflitos emocionais, com um clipe dirigido por Rabu Gonzales que evoca a estética crua dos anos 80 – uma era formativa para os membros, que cresceram com vinis e clipes da MTV.


Guidi definiu "Aniquilação", faixa celebrada com um videoclipe no dia do lançamento do álbum, como 'punk-disco-grunge', abordando o fim do mundo com uma mistura de alívio e prazer, marcando a estreia de arranjos de metais no repertório da banda. Chokkito, por sua vez, enfatizou o caráter variado e afetuoso do disco: "É o nosso trabalho mais polido", disse, destacando como ele combina o som dos anos 2000 com inovações modernas, como sintetizadores e máquinas de bateria.


A banda não parou por aí. Ainda em 2025, a PIC NIC planeja lançar os videoclipes das faixas "Bem-Vindo" e "Volta", reforçando a potência visual que sempre acompanhou suas produções e consolidando o retorno com força total. Esses clipes prometem capturar a essência vibrante do álbum, com a estética marcante que conecta o passado nostálgico da banda ao seu presente inovador. Além disso, o grupo já olha para o futuro: em novembro, começam os ensaios para um novo álbum, previsto para 2026, sinalizando que a PIC NIC não apenas voltou, mas veio para ficar, com energia renovada e planos ambiciosos.


O que torna a PIC NIC verdadeiramente "Dissonante", termo que encapsula sua essência não convencional, é essa capacidade de abraçar o caos criativo, misturando gêneros aparentemente incompatíveis para criar um som rico em texturas contrastantes. Longe de harmonias previsíveis, a banda constrói sua identidade em dissonâncias musicais e temáticas, como visto em Volta, onde indie rock colide com rap e disco, refletindo uma carreira que desafiou expectativas e ressurgiu mais forte do hiato.


Em um mundo musical cada vez mais homogêneo, a PIC NIC prova que a verdadeira inovação nasce da tensão entre o antigo e o novo, tornando-os uma voz indispensável no rock brasileiro contemporâneo.


Conheça a página bio-discográfica da PIC NIC. Clique aqui


Assista ao clipe da música Pobre de Mim com direção de vídeo de Rabu Gonzales.


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