The Lira: Ele só queria divulgar sua música no YouTube e acabou fazendo um dos melhores clipes do ano
- Jorge Murilo

- 1 de out.
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Por Jorge Murilo, 01/10/2025 às 11:30

Em um quarto simples de Parnaíba, no extremo norte do Piauí, onde o Delta do Parnaíba se mistura ao mar com dunas infinitas e águas cristalinas, The Lira acordou um dia com uma ideia simples: gravar um vídeo para "Soprando Conclusões" e postá-lo no YouTube. Sem equipe, sem orçamento hollywoodiano, sem estúdio chique. Apenas um celular na mão, um tripé emprestado e a vastidão da praia como cenário. O que começou como um ato de teimosia independente transformou-se em um clipe que fantástico e um dos mais impactantes de 2025, um hino visual à resiliência criativa, filmado sozinho nas areias da Pedra do Sal.

The Lira, cujo nome artístico carrega o peso de uma identidade forjada em cicatrizes e recusas ao apagamento – como ele mesmo descreve: "The Lira não é apenas um artista. É uma escolha de não desaparecer" –, é um filho legítimo dessa terra poética. Natural de Parnaíba, uma cidade que ele chama de "maravilhosa" por abrigar poetas resistentes e composições nascidas da brisa salgada, Lira representa o artista periférico que o Brasil periférico tanto precisa. Longe dos holofotes de São Paulo ou Rio de Janeiro, onde "a máquina de fazer artistas" ronrona sem parar, ele constrói sua carreira desde 2017 com gravações caseiras no quarto, improvisos de guitarra e uma veia psicodélica que ecoa nas dunas. Sua música, disponível no Spotify com faixas que misturam dor e esperança, já acumula milhares de streams, mas é o clipe de "Soprando Conclusões" que eleva sua trajetória a outro patamar.
Sem equipe de filmagem, sem diretor e sem aparato técnico sofisticado, The Lira encarou sozinho o desafio de criar seu próprio videoclipe. Armado apenas com uma câmera, o artista piauiense se lançou ao mar de experimentações: gravou inúmeros takes, testou ângulos, buscou a luz certa e aprendeu, de forma autodidata, a editar as imagens até encontrar o ponto ideal.

O processo? Puro DIY – faça você mesmo –, impulsionado pela pandemia que o pegou "com essa mania" de filmar. Em entrevista exclusiva à Revista Dissonância, Lira conta como tudo começou: "Acordei, me inspirei e fui de moto pra praia. Levei o tripé e – vamos lá, vamos explorar o que é ser independente – botei o tripé dentro do mar e me filmei tocando no mar.

Depois comecei a rolar na areia, uma loucura, velho (risos)". Sozinho, ele experimentou takes intermináveis, ajustando ângulos sob o sol escaldante, capturando o violão ecoando contra as ondas e o corpo se misturando à espuma. "Fiz vários takes até achar o ponto ideal", revela, admitindo que revisitava as filmagens dias depois para refinar a coloração e a finalização.
Autodidata na edição – "Fui aprender a editar, a brincar com computador. Depois que eu descobri que dava pra filmar com celular e começar a editar no celular, velho! O céu foi o limite" –, Lira transformou limitações em liberdade. Inspirado até por Zé Padilha, de Tropa de Elite, ele ri ao dizer: "Hoje em dia, todo mundo com um celular na mão pode ser um cineasta, a todo momento".

O cenário escolhido não poderia ser mais simbólico: o litoral de Parnaíba. As praias e paisagens naturais serviram de pano de fundo para imagens poéticas que dialogam diretamente com a intensidade da música. A simplicidade do processo contrasta com a beleza do resultado final — um clipe que poderia facilmente figurar em playlists profissionais, sem dever nada a grandes produções.

E o resultado é hipnotizante. Disponível no YouTube (@TheLiraRock), o clipe de "Soprando Conclusões" usa o litoral piauiense como tela viva: praias desertas ao amanhecer, o horizonte se fundindo ao céu em tons de azul e ouro, e Lira como figura solitária, soprando notas que parecem desafiar o vento. Não há efeitos caros da Marvel – "A gente tá falando de atitude mesmo, de super atitude" –, mas uma produção tão bem acabada que rivaliza com clipes de majors. Fãs nos comentários elogiam a autenticidade: "Isso é arte de verdade, sem filtro falso", diz um; "Um clipe que captura a alma do Nordeste", comenta outro. Para um artista independente, é um marco: gravado, editado e lançado por ele mesmo, do zero ao viral.
Essa história não é só de sucesso pessoal; é um chamado aos que sonham em cantos esquecidos do mapa. Em Parnaíba, onde "o que você tem que fazer é umas duas músicas e ir embora (risos), porque é pequeno", Lira encontrou força na distância. "Infelizmente o Piauí não tem essa máquina de fazer artistas, nunca teve", desabafa na entrevista, mas transforma a queixa em lição: "Essa atitude define que, mais do que falar, a gente precisa chegar lá e fazer". Para outros independentes, ele é direto e motivador:
"Cara, tem uma bolha. Eu, por exemplo, não tenho como contratar alguém pra filmar meu clipe, primeiro porque eu acho que não vai ficar um trabalho legal, então, se você acredita que você tem a sua arte sob o seu controle, você não é um artista que tá na mídia sendo controlado por uma grande gravadora ou quem quer seja, então você só pode confiar em você mesmo. Se você acredita em você, vai lá e faz".
Sua trajetória reforça essa mensagem. De apresentações caseiras a aparições em TV local, sua bio pulsa com urgência: "Se for pra incendiar tudo, então queime o medo, queime a dúvida, queime os ruídos. E que fique só a música, a verdade, e a chama que nunca se apagou".

"Soprando Conclusões" não é só uma música sobre introspecção – "Essa música, eu defendo que é uma conexão consigo mesmo" –, mas um manifesto. Num mundo de redes sociais que "tem muita coisa, tem muita informação", Lira avisa: "Então não deixe fugir. Mesmo que você não saiba rotular e definir pra outras pessoas, vai lá e se agarre àquilo que tá dentro de você, que define quem você é, porque é aí que tá sua força".
Para os artistas independentes lendo isso, ouça:
"É aí que o Independente chama atenção e o mais importante, nunca volte atrás. Se você encontrar uma barreira, sobe por cima dela, chuta ela, joga um coco nela, faz alguma coisa. Ou então para de imaginar essa barreira na tua frente, porque dá pra vencer e você vence".
The Lira provou: com um celular e uma praia, o impossível vira obra-prima. Agora, é a sua vez de soprar.
Veja o clipe cinematográfico de Soprando Conclusões:
A música é o seu instrumento de transcendência, The Lira trás sua magnífica expressão harmonizada com poesia, guitarra e sua voz única. O Artista mostra seu rosto para o mundo junto à sua mensagem musical que vem vencendo barreiras à 25 anos.
Produção: The Lira

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