Lucas Rinor: o espírito da montanha e o chamado das estradas

Tião Folk
14 de out
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Por Tião Folk, 14/10/2025 às 09:00

Por entre as montanhas de Minas Gerais, onde o vento traz histórias e o crepitar da fogueira serve de trilha para a alma, vive e canta Lucas Rinor, um dos nomes mais autênticos do folk brasileiro contemporâneo. Com o violão a tiracolo e um olhar que busca a verdade nas coisas simples, Rinor transforma o cotidiano rural em poesia sonora. Sua voz ecoa como um chamado antigo, o mesmo que moveu viajantes, poetas e músicos a buscarem sentido na estrada e beleza no silêncio.

Em uma entrevista exclusiva à Revista Dissonância, Rinor desvela os mistérios por trás de sua obra mais ressonante, O Espírito da Montanha, faixa icônica do álbum Sobre Lobos e Homens – disponível no Spotify e iTunes, com mais de 30 mil reproduções orgânicas que florescem como sementes ao vento. Ele refletiu quando perguntamos: "O Espírito da Montanha" é uma de suas faixas mais populares. Qual a inspiração por trás da letra e do som dessa canção que a tornou tão ressonante com o público?

“Essa canção foi feita num momento muito importante na minha vida, de questionamento sobre a verdade do mundo, a verdade que está nas coisas. Ela representa essa linha que corta a nossa vida e que ela representa algo que é imutável. Seria aquela pedra, aquele bloco de pedra que nunca irá se mover. Mesmo se a gente manipular a realidade, ela sempre se apresenta, e acaba sendo um guia, sim, em direção a verdade, ao que é eterno”,

Com humildade e humor, ele diz que a música “ganhou vida própria”:

“Quando a gente compõe, a canção deixa de pertencer a nós. As pessoas vão entendê-la de acordo com o que elas vivem. Já recebi relatos de ouvintes que estavam em momentos difíceis — um relacionamento, uma dúvida sobre o futuro — e a música os abraçou. Esse é o propósito da arte: ser um guia em direção ao que é eterno.”

Folk Reunion: Um Encontro de Almas Sob o Véu da Noite

Essa filosofia de encontro e partilha se materializa no Folk Reunion, evento criado por Rinor que acontece no dia 8 de novembro, em Belo Horizonte, no acolhedor Cantinho Mineiro, próximo ao Posto Chefão, amigos e almas afins se reunirão para dançar ao som de melodias que fluem como riachos montanheses, como ele mesmo resume:

“O Folk Reunion é um momento de alegria, de reencontro e de amor. Eu reúno amigos convidados, amigos de amigos, pra fazer música, dançar, festejar. É simples, mas é verdadeiro”

O cantor conta que antes de subir ao palco, ele e os colegas se encontram em sua fazenda, onde o som nasce entre risadas e fagulhas de fogueira.

“A gente fica alguns dias juntos, tocando, se preparando pro evento. Quando chega o dia, é só alegria. E o melhor de tudo é voltar pra casa com o coração cheio. O Folk Reunion me dá energia pra semanas. É um evento pequeno, mas cheio de verdade. E as portas estão escancaradas pra quem quiser chegar.”

Folk na Estrada: Peregrinações Musicais Pelas Veias de Minas

Como um viajante das antigas lendas, Rinor embarca no projeto Folk na Estrada, ao lado do companheiro Trinta, cortando as estradas sinuosas de Minas Gerais para semear canções em praças, clubes, hotéis-fazenda e onde mais couber arte.

Essas viagens resultam em registros cheios de alma: vídeos simples, mas cheios de significado, postados nas redes do projeto @folknaestrada. Em cada imagem, é possível ver o que ele descreve como “a música feita de modo elementar, sem pretensão, mas cheia de amor e contemplação”.

Algumas postagens no Instagram capturaram esses momentos efêmeros: em Viçosa, onde as notas dançam com o vento; na Serra da Divinésia, no Sítio Bela Vista, sob o manto da natureza; e na praça de Divinésia, onde a música se entrelaça às histórias locais, são alguns dos exemplos por onde a trupe passou.

“A gente corta as estradas de Minas. A gente realiza parcerias com hotéis, hotel fazenda, e a gente realiza alguns shows pela região. A gente realiza algumas turnês durante o ano. Mas é isso, a minha música é sem pretensão, é uma música muito simples, feita de maneira muito elementar, ali no home estúdio, principalmente agora no momento, gravando num lugar até sem tratamento acústico”

Compartilha Rinor, evocando uma simplicidade que ressoa como o canto dos pássaros ao amanhecer. Essa jornada não é mero percurso, mas uma comunhão com o humano:

“A estrada é o meu lar. Eu amo conhecer pessoas. Cada um tem uma identidade, tem um DNA, uma maneira de se comportar de pensar, eu gosto muito disso. E principalmente as pessoas amorosas, bondosas e a gente encontra muito por aí. Eu sou um cara muito otimista com a humanidade... A música, para mim, tem esse sentido mais na intimidade, com meu violão à beira da fogueira, mas tem esse sentido também de encontrar pessoas e fazer festa.”

A Dissonância de um Artista: Busca pela Verdade em Meio ao Caos

A trajetória de Lucas Rinor é marcada por uma busca incansável pela autenticidade. Influenciado por nomes como Bob Dylan, Willie Nelson e Bon Iver, ele adapta elementos do folk e country à sua realidade rural em Minas Gerais. “Vivo na roça, mexo com criação, contemplo a natureza. Não tem como falar de cidades sujas ou caos urbano. Minha música vem do que é real ao meu redor”, explica.

Essa conexão com o cotidiano e a rejeição de clichês comerciais o tornam uma voz “dissonante” no cenário musical, como ele próprio reconhece. Para Rinor, ser artista é seguir uma visão, mesmo que isso signifique nadar contra a corrente.

Apesar dos desafios enfrentados por artistas independentes no Brasil, como excesso de regulamentações e dificuldades financeiras para manter bandas e estruturas, Rinor permanece fiel à sua missão. “Não me preocupo com carreira ou marketing. Quero encontrar amigos, fazer música e viver momentos eternos”, afirma. Essa filosofia se reflete em projetos como o livro de contos e mitos Santa Cruz, que ele escreve sem pressa, inspirado pelo folclore local e pela necessidade de criar um suporte mitológico para sua arte.

Um Chamado às Almas Peregrinas

Com uma carreira que transcende rótulos e uma música que toca o coração, Lucas Rinor continua a trilhar seu caminho com simplicidade e paixão. Seja no Folk Reunion, no projeto Folk na Estrada ou em suas gravações caseiras, ele convida o público a se conectar com o que é verdadeiro. “Conheçam minhas canções no Spotify, YouTube e Instagram. Que o amor de Deus esteja presente em tudo que vocês desejam fazer”, deixa como mensagem.

Em um mundo cada vez mais digital e acelerado, Lucas Rinor segue na contramão: recusa-se a ser apenas “um produto”.

“Já me preocupei com carreira, redes sociais, público-alvo... mas percebi que isso é uma grande mentira. O artista não deve buscar sucesso, deve buscar a verdade. Eu só quero fazer música com meus amigos, celebrar, viver bons momentos.”

Essa entrega total à autenticidade, sem planos de gravadora, sem pressa, sem fórmulas, é o que faz de Rinor uma das vozes mais honestas do folk nacional.

“Eu toco um estilo muito lado B… nem B, é lado C (risos). Não existe nicho de mercado pro que eu faço, e tudo bem. Eu prefiro tocar à beira da fogueira, com amigos, sob o céu estrelado de Minas, do que viver tentando ser algo que não sou.”

Entre as montanhas, o vento, as estradas e os amigos, Lucas Rinor segue cantando o que é eterno: o amor, a vida, e o espírito da montanha que o guia.

Para quem deseja mergulhar na obra de Rinor, suas redes sociais (@lucasrinor) e plataformas de streaming oferecem um rico catálogo de músicas e histórias. O Folk Reunion em Belo Horizonte é uma oportunidade imperdível para vivenciar a magia de sua música ao vivo, em um ambiente de celebração e amizade. Como o próprio Rinor diz, “a música é mais poderosa que as palavras” — e sua arte é a prova viva disso.