Lucas Rinor em Dissonância: entrevista exclusiva
- Tião Folk
- 13 de out.
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Por Tião Folk, 14/10/2025 às 07:30
Sob o céu estrelado das montanhas de Minas Gerais, onde o vento carrega ecos de tradições e a terra pulsa com histórias não contadas, Lucas Rinor emerge como um trovador do folk brasileiro, cuja voz ressoa com a força de raízes profundas e a leveza de um coração em busca da verdade. Nascido no seio de Minas e moldado pelas paisagens rurais, Rinor tece canções que entrelaçam folk, blues e country rock, cantando sobre fé, família e o amor às origens com uma autenticidade que desafia as correntes do efêmero. Em entrevista à Revista Dissonância, o artista independente, cuja obra-prima O Espírito da Montanha conquistou corações com mais de 30 mil reproduções orgânicas, revela os segredos de sua jornada, a paixão por conectar almas através da música e os projetos que, como fogueiras à beira do caminho, iluminam sua visão de um mundo mais verdadeiro.
Dissonância: "O Espírito da Montanha" é uma de suas faixas mais populares. Qual a inspiração por trás da letra e do som dessa canção que a tornou tão ressonante com o público?

Lucas Rinor: Olá, Amigos da Revista Dissonância, primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade. É um espaço muito especial em que a gente se sente acolhido. Então, essa iniciativa é muito importante, porque o artista, muitas vezes, tem um caminho muito solitário e quando tem alguém que olha para o nosso trabalho, realmente nosso coração fica cheio de alegria, especialmente por saber que existem iniciativas que estão procurando enxergar o artista e ser solidário aos nossos intuitos dentro da arte. É muito complicado falar sobre canções, é difícil discorrer sobre uma canção, porque existe, às vezes, muito mais do que soa nas entrelinhas. Porque existem, às vezes, caminhos simbólicos e acaba que quando a gente compõe uma música, ela não nos pertence mais. As pessoas vão ouvir e entendê-la de acordo com o que elas conhecem do mundo, do estilo de vida que elas vivem. Mas do que eu posso dizer, o que posso falar sobre essa canção, é que ela foi feita num momento muito importante na minha vida, de questionamento sobre a verdade do mundo, a verdade que está nas coisas. Então, o “Espírito da Montanha”, ela representa essa linha que corta a nossa vida e que ela representa algo que é imutável. Seria aquela pedra, aquele bloco de pedra que nunca irá se mover. Mesmo se a gente manipular a realidade, ela sempre se apresenta, e acaba sendo um guia, sim, em direção a verdade, ao que é eterno. O “Espírito da Montanha” foi feito com esse intuito e num momento em que estava me questionando sobre as coisas, sobre isso. É lógico que um questionamento desse pode indicar para vários caminhos; como eu falei, cada um pode ter sua interpretação e espero que a canção tenha uma indicação saudável, amorosa, para cada um que deseja escutá-la. Eu acredito que ela teve um impacto muito grande na vida de muitas pessoas e continua, ela por si só, continua chegando a novas pessoas. A música é muito interessante, né? quando você coloca uma canção no mundo, ela cria vida própria, e vai chegando às pessoas, ainda mais com a internet que possibilita, uma vez ou outra, o algoritmo né? eu não sei como funciona essas coisas (risos), mas o algoritmo indicar numa direção e acaba caindo aí, chegando a alguém. E eu já tive relatos muito diversos, de pessoas que receberam essa música, às vezes uma dificuldade num relacionamento, às vezes uma dúvida em relação a sua própria vida, aos seus caminhos; e a canção acaba abraçando essas pessoas e isso me deixa muito feliz e, para mim, esse sentido ele cumpre 100% do propósito que a música que a música deve ser, como a música deve ser na vida das pessoas, como a música deve ser no mundo. Então isso me alegra muito e acredito que a letra, o próprio vídeo clipe é muito bonito, gerou uma facilidade de a música chegar às pessoas. E tive grupos de interesse na época, portais que foram impactados também com as canções, pessoas importantes na internet que acolheram a música, divulgaram e isso fez chegar para mais pessoas. É o milagre da internet né? eu que não conheço muito esse mundo, eu acabo achando curioso como essas coisas acontecem.
Dissonância: Você fundiu elementos de Folk, Country Rock e indie. Quais artistas ou experiências o influenciaram a criar essa sonoridade única?

Lucas Rinor: Essa questão sobre sonoridade é muito interessante, é muito curioso, porque essas influências vão se modificando com o passar da nossa caminhada na música. E eu tive vários momentos com a música. Eu já tive momento em que eu estava mais sendo influenciado pelo rock e tive um flash com Blues muito legal, com o Jazz. A própria música Folk que é um termo que eu assumi como meu, eu me considero um artista de folk, mas ele é um termo muito genérico na verdade. Eu até falado em conversas com amigos sobre ‘o que é folk?’ e tenho amigos que são mais tradicionais, eles vão lá pro folk mais rural, quando no início o folk, o folclore, não era nem algo pensado comercialmente, tem outros amigos que já vão para outra direção. Então o folk é um termo muito genérico, mas eu até hoje gosto de muitos artistas de folk. Nos últimos meses eu fiquei muito impactado com o trabalho do Bob Dylan que é talvez o primeiro nome quando a gente pensa em folk. Eu conhecia pouco do trabalho dele, comecei a ouvir a discografia e fiquei encantado, super artista. Sonoridades mágicas, tudo muito simples, mas colocado no lugar correto, muito interessante. A música Country, eu amo o Willie Nelson! O Willie Nelson talvez seja uma das minhas maiores influências. Eu amo o estilo de vida do Willie Nelson, não só a música, mas como é que ele vive a vida, como é que ele vê as coisas, como é que ele trata as pessoas, como é que ele se relaciona com a música, isso me impactou muito. Embora esse Country muito clichê, eu tenha uma certa resistência, porque eu tento sempre trazer tudo o que eu escuto para a minha realidade, o meu cotidiano. Hoje eu vivo na roça, eu trabalho com criação e as paisagens aqui de Minas são muito diferentes das paisagens do Texas e não tem como eu ficar forçando a barra e quere me portar com cowboy aqui. E eu, realmente, tenho a minha vida e as coisas muito específicas da minha vida. Mas a música country é maravilhosa, eu sinto que ela tá muito conectada a uma visão norte-americana, que é muito legal, eu acho muito legal, mas não cabe à minha vida. E o indie, eu sempre gostei muito dessas sonoridades muito abertas, até por isso eu uso muito lapshills nos meus discos, essas sonoridades que, para mim, lembra as estrelas quando eu vou caminhar à noite na roça, eu vejo aquele céu estrelado assim de tirar o fôlego. Eu acredito que a música indie tem muito isso aí. Eu acredito que os principais nomes, que tem um impacto muito grande sobre mim é o Bon Iver que foi um cara que trouxe uma curiosidade sobre esse mundo dos arranjos. Até por causa dele eu fui estudar, aprender a escrever arranjos, abrir grades na música e essa influência me levou a lugares muito bons e continuo explorando. Minha última paixão é o Blueglass. Caras como o Norman Blake, principalmente o Norman Blake tem me trago um universo de técnicas para o violão para a guitarra. O flatpiking, essa história do flatpiking me tirou do lugar, renovou a minha paixão pela música e hoje eu tenho brincado aqui com o meu violão à beira da fogueira. Faço meus improvisos e quando eu saio daqui e levo isso pra estrada eu sinto uma segurança muito grande de o instrumento estar chegando na minha mão de uma forma muito completa. E sempre tentando melhorar, sempre tentando manter a prática do dia a dia e com isso mantendo viva a paixão. E é isso, meu estilo de vida também aqui, como eu falei, eu moro na roça mexendo com criação, muito contato com a natureza, contemplando as paisagens do campo, isso é um dos motores que faz com que eu me inspire e crie canções. E o próprio ser humano, eu amo conhecer pessoas. Cada um tem uma identidade, tem um DNA, uma maneira de se comportar de pensar, eu gosto muito disso. E principalmente as pessoas amorosas, bondosas e a gente encontra muito por aí. Eu sou um cara muito otimista com a humanidade, lógico que existem coisas ruins, pessoas ruins no mundo, mas a grande maioria das pessoas que eu encontro pelo caminho são muito boas e isso me influencia muito a voltar para estrada para encontrar essas pessoas, e encontrar no sentido de festejar a vida, encontrar no sentido de comemorar. A música, para mim, tem esse sentido mais na intimidade, com meu violão à beira da fogueira, mas tem esse sentido também de encontrar pessoas e fazer festa.
Dissonância: Nós da Revista Dissonância buscamos sempre explorar a autenticidade e a ruptura com o convencional. Qual você acredita ser o elemento mais "dissonante" em sua carreira ou em sua arte?

Lucas Rinor: Pergunta interessante, deixa muito espaço para gente refletir o que talvez faz da gente único, né? Todo artista, eu acredito, ele é movido por uma visão e essa visão que se torna único. Um artista que não é movido por uma visão, eu não sei nem se ele pode ser chamado de artista. Talvez ele deseje ser apenas uma cópia, copiar um outro modelo que ele julga ser comercial – e todo respeito a esses caminhos –, mas o artista é aquele cara que não se preocupa muito com o dinheiro, vou te falar a verdade, ele se preocupa, sim, em expressar algo verdadeiro, genuíno. E quando você quer tocar nesse ponto da verdade, você tem algumas coisas que vão ser barreiras e uma delas é a motivação financeira, que se diz muito no mundo hoje que o artista tem que cuidar da sua carreira, tem que fazer isso, tem que fazer aquilo. Eu até já passei um tempo da minha vida me preocupando com isso, sabe? Mas depois de um tempo, eu percebo que isso é uma grande mentira. Eu, hoje, só desejo encontrar com meus amigos e fazer música, fazer festa, que a música me leve a novas experiências. Eu posso tá falando aqui alguma blasfêmia dentro do horizonte que se espera hoje em dia, que o músico tenha uma carreira, se torne um gestor e ao mesmo tempo ele tem que gerenciar as redes sociais, tem que descobrir o público-alvo, todo aquele papo do marketing que funciona, talvez em alguns nichos. Mas eu acredito que o artista, verdadeiramente falando, ele é uma pessoa que é movida por uma visão, uma visão que busca a verdade, busca a realidade. Porque não tem como você viver no mundo buscando algo que é diferente do que ele é, como ele se apresenta. Por exemplo, eu vivo aqui no meio da natureza, naturalmente vou ser inspirado pela natureza, vou falar de árvores, dos animais. Eu não vou falar de fábricas poluídas, cidades sujas, do caos urbano. Então eu vou me inspirar pela verdade, pela realidade que me cerca. O artista é movido por isso; e eu acredito que talvez essa linha da busca da autenticidade, sempre procurando a realidade, a verdade é uma das minhas características, mas eu acredito que é uma característica de todo artista verdadeiro, todo artista genuíno que tenha o seu traço, tenha sua assinatura na maneira de fazer a sua música e hoje é essa visão que me move, é essa visão que me alegra, eu nem me importo muito com nada além disso. Eu olho lá pra frente, eu medito sobre a morte todos os dias e não me preocupo com nada que não será colocado na minha vida de maneira eterna. E as coisas que eu coloco na minha vida de maneira eterna são os momentos que eu vivo, o amor que eu sinto pelas pessoas, os momentos da música de conexão com outros músicos, outras pessoas, viver bons momentos. E é isso, nada além disso, até porque eu toco um estilo muito lado B, nem B, é lado C (risos), muito desconhecido aqui no Brasil. Então se eu não adotar essa postura eu acabo enlouquecendo. Não existe nicho de mercado para o trabalho que eu faço. Embora, surpreendentemente, eu acabe tendo muitas pessoas me seguindo nas redes, mas é mais inspirado por essa visão, eu acredito, do que propriamente por eu me encaixar em algum movimento musical, em alguma linha de mercado. Eu acho isso muito bonito e me alegro com cada passo, com cada coração que ser aproxima do meu, isso me deixa muito feliz.
Dissonância: Fala pra gente o que é o “Folk Reunion” e como você espera executar esse projeto? Aproveita para convidar nossos leitores.

Lucas Rinor: A questão do Folk Reunion vem muito a calhar, até porque durante a nossa entrevista, eu já tenho falado das minhas intenções com a música. E o Folk Reunion é um objeto que expressa essas intenções. Ele é um evento onde eu reúno amigos convidados, amigos de amigos para fazer música, festejar, para dançar, para ter um momento de alegria. E com isso eu realizo esse evento. Hoje eu moro distante de Belo Horizonte, aqui no lugar que eu moro, na fazenda, vem alguns colegas e a gente se encontra aqui, a gente fica alguns dias já fazendo um som, se preparando para o evento. Então a gente aproveita o ambiente, já faz festa aqui. Saímos daqui e vamos lá, tocamos para reunir mais amigos ainda. Mais festa, mais amor, mais confraternização e eu volto com o coração cheio, cheio, cheio de experiência. Esse movimento do Folk Reunion gera em mim uma alegria que eu carrego durante semanas. E isso faz da minha vida, ainda mais apaixonante, são momentos revigorantes. Então o Folk Reunion é isso, eu executo ele de uma maneira muito simples, muito simples mesmo. Eu divulgo ali no Instagram. Mas a questão da divulgação no Instagram acaba sendo quase uma questão de protocolo, porque as conversas em grupos de WhatsApp e as conversas privadas, pessoais e amigos que estão também motivados a compartilhar esse momento com a gente, essas pessoas que acabam comparecendo. Então não é um evento muito grande, mas é um evento de muita verdade, de muito amor, de amigos que eu carrego há muito tempo e lógico que ele está aberto, as portas do Folk Reunion estão abertas, escancaradas para quem quiser chegar. Eu convido, para quem estiver em Belo Horizonte, a participar do evento e a compartilhar esse momento de alegria, de reencontro com todos nós. Como eu falei, eu não sou uma pessoa boa do marketing, não sou uma pessoa boa nesse sentido, mas eu vou dizer que eu tenho amigos, sabe? Que abraçam o projeto e é por isso que ele funciona, ele acontece. Eu simplesmente marco, combino previamente com uma casa, vamos ter agora o apoio do Cantinho Mineiro, lá perto do Posto Xefão, atrás de um posto de gasolina. É um lugar muito bonito, muito aconchegando onde eu já passei por lá, gravei meu último videoclipe, algumas cenas têm lá, da música “Caminhoneiro”. E, a partir dessa primeira parceria eu fiz o convite para os amigos do Cantinho Mineiro e eles nos acolheram. Agora no momento já tá com a data marcada, já temos tudo fechado, o som e todos os detalhes. Agora é momento dos convites. Reitero, estão todos convidados. Será uma alegria conhecê-los e fazer um som para todo mundo que deseja ter um momento bom de festa.
Dissonância: O que seus fãs podem esperar de você nos próximos meses em relação a novos lançamentos ou projetos?

Lucas Rinor: Eu não coloco muito datas nas coisas, essa é uma das liberdades que eu tenho por ser um artista que não estou conectado a nenhum selo a nenhuma gravadora. E eu, como se diz: sou um artista independente. Então, eu não tenho prazo, mas posso falar o que estou preparando. Esses momentos de convívio com os animais, com a natureza aqui, têm naturalmente me tem criado muitos momentos de contemplação mesmo, de inspiração. E eu tenho criado algumas canções, sempre sem a pretensão de gravá-las, de registrá-las. É algo sempre muito para mim. Assim como eu estou escrevendo um livro de contos, de mitos, chamado Santa Cruz que é algo que eu nem sei mesmo se eu vou publicar (risos). Já tem três, quase quatro anos que eu estou escrevendo esse livretinho. E a necessidade desse material vem muito por uma demanda própria, por acreditar que todo artista precisa de um suporte mitológico. Se você for ver, realmente todo artista tem as suas referências pautadas no folclore local. Você, por exemplo, o Led Zeppelin, ele tem um misticismo muito grande, tem o universo de símbolos. A obra do Tolkien que é baseada na mitologia inglesa, nórdica. Então, muitos dos artistas, você vê estão, às vezes, mergulhados no ambiente rural, mítico, com assombrações, com suas histórias. E eu sinto um pouco falta disso aqui no Brasil, e resolvi buscar dentro das minhas experiências, das estórias que eu ouvi à beira da fogueira, dos caseiros bons de conta, dos livros que eu li sobre mitologia na minha infância, das estórias que eu conheço um pouco da região, dos seres que habitam aqui. Eu resolvi colocar isso no papel, trazendo os elementos que eu acredito, as simbologias e as interpretações. Parece um papo de louco, né? mas é o que faz muito sentido para mim. Como eu falei, inicialmente é uma demanda minha. Não sei se isso vai acontecer de eu lançar, mas naturalmente essas coisas extrapolam, como um copo que você vai enchendo, uma hora ele extrapola as bordas. Esse é o caminho natural, mesmo que seja um lançamento mais simples, talvez ele aconteça. Tem muitos projetos pela frente, tem algumas coisas que são ainda muito embrionárias e que talvez seja até irresponsável eu divulgá-las, mas discos, turnês, tem o projeto ‘Folk Na Estrada’ que eu realizo com frequência, com meu amigo Trinta. A gente corta as estradas de Minas. A gente realiza parcerias com hotéis, hotel fazenda, e a gente realiza alguns shows pela região. A gente realiza algumas turnês durante o ano. Mas é isso, a minha música é sem pretensão, é uma música muito simples, feita de maneira muito elementar, ali no home estúdio, principalmente agora no momento, gravando num lugar até sem tratamento acústico. Mas hoje existem muitos recursos para a gente fazer essa música acontecer. E com isso vou colocando na internet, tocando com a minha banda, vou apresentando nessas turnês, nesses eventos. Assim a gente vai vivendo, compartilhando a nossa mensagem e chegando a novas pessoas, novos lugares. Eu aproveito aqui já terminando a entrevista para agradecer mais uma vez a oportunidade de bater esse papo. Num tempo tão curto, talvez a gente não consiga passar tudo que a gente deseja. Espero que tenha sido claro aqui nas minhas palavras. Convido a todos para conhecerem as minhas canções pelas redes sociais, tá nas plataformas de streaming, no YouTube também tem muita coisa. E talvez essa experiência sonora seja mais indicativa do que eu sou como artista, até mesmo do que eu sou falando. Falar, eu vejo sempre como algo limitado dentro do que a música representa, do que a gente consegue transmitir com o som, com a música. Eu acho isso muito mais poderoso. Então eu convido todos a quem quiser conhecer o trabalho do Lucas Rinor e deixo aqui meu agradecimento a todos da Revista Dissonância. Forte Abraço!

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