Télia lança "Um Novo Lugar": A arte como um grito de existência
- Tião Folk
- 19 de set.
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Por Tião Folk, 19/09/2025 às 09:00

Para muitos artistas independentes, a jornada criativa é um ato de coragem e resiliência. É a busca incessante por um espaço no mundo, a vontade de ser ouvido e a necessidade de ver sua arte reconhecida. A cantora, compositora e poetisa paulistana Télia personifica essa luta em sua trajetória e, agora, lança seu mais novo single, "Um Novo Lugar", que chega como um hino para todos aqueles que se sentem invisíveis.
Disponível em plataformas como Spotify e YouTube, a música chega como um hino para aqueles que lutam para serem ouvidos, transformando dilemas pessoais em reflexões coletivas. Para Télia, que constrói sua carreira à margem dos holofotes mainstream, esse tema não poderia ser mais pertinente: ele encapsula a batalha diária de artistas independentes por reconhecimento através de sua arte, provando que o brilho individual pode iluminar caminhos mesmo em meio à invisibilidade.
Em entrevista exclusiva à Revista Dissonância, a artista revelou a essência por trás da canção:
"A música representa o grito que diz: ‘eu existo! Olha, eu tô aqui!’. Meu objetivo é que todas as pessoas que de certa forma se sentem invisíveis possam ter coragem de assumir quem realmente são e também gritar ‘eu existo!’. Todos nós somos estrelas e todos queremos brilhar".

Essa mensagem ganha ainda mais peso quando se conhece a trajetória da cantora. Vinda de uma genealogia feminina conservadora, Télia quebrou padrões ao escolher a arte como caminho, deixando inclusive um cargo público estável para buscar realização em áreas ligadas à música e ao impacto social. “É preciso coragem para ouvir o que sente, mas é preciso o dobro da coragem para deixar pra trás aquilo que a gente já conquistou”, revelou na mesma conversa.

Télia, que abandonou um cargo público estável para perseguir sua paixão, encarna essa coragem. "Eu vim quebrar padrões familiares, onde fazer o que gosta só pelo prazer não era aceitável", conta. "Deixar o certo pelo duvidoso exige o dobro da coragem, mas é preciso para ouvir o que se sente".

Nascida e criada em São Paulo, Télia, cujo nome artístico evoca uma fusão de lirismo e teoria, é uma figura multifacetada que desafia rótulos. Desde a infância buscou a música como seu norte.
Na vida adulta, formada em Sociologia e Psicanálise, ela infunde em sua obra uma profundidade intelectual que vai além do entretenimento superficial. Seu percurso na música começou de forma modesta: aulas de canto em 2015, apresentações de covers em bares e casas de show a partir de 2020, e participações em bandas que a levaram a palcos como a Avenida Paulista durante o Outubro Rosa.

Foi como artista solo que Télia encontrou sua voz autêntica, misturando rock com poesia em performances que intercalam canções e versos declamados. Apesar de ter poucos lançamentos em streaming, apenas três singles até agora, sua produtividade é voraz. Ela escreve incessantemente, mantendo um Instagram literário (@lia.versos.e.teoria) onde publica poemas que exploram contradições sociais e existenciais, e um blog com artigos acadêmicos sobre temas como sociedade e psicanálise.

Uma história de luta marca sua trajetória. Durante a pandemia, Télia publicou seu primeiro livro, Vida e Morte na Cidade: Suspiros e Contradições Poéticas (Editora Autografia), uma coletânea de poesias modernas que dissecam as tensões urbanas e humanas. O livro, disponível online, reflete o mesmo espírito de seu single de estreia, o blues "Alegria, Dinheiro ou Paz?", que questiona prioridades em um mundo caótico.
Seu segundo lançamento, "Retratos Selvagens", nasceu de um sonho surreal: Cazuza, ícone do rock brasileiro dos anos 80, apareceu em sua mente cantando uma frase que não existia: "dessa vez eu nem sei como eu sobrevivi". Acordada, Télia transformou o devaneio em realidade, homenageando a era com arranjos nostálgicos e um clipe que mistura rock e pop. "Várias pessoas me disseram que lembrou Barão Vermelho e Cazuza, sem saber da história", revelou ela em entrevista exclusiva à Revista Dissonância.
Sua formação acadêmica permeia tudo. Inspirada por Freud e Jung, Télia vê suas composições como ferramentas de individuação, o processo de se tornar quem se é de verdade. "A análise revela o inconsciente, dando liberdade para ser o que quiser", explica. Em "Um Novo Lugar", isso se manifesta como uma chamada para alinhar escolhas com desejos autênticos, ecoando seu primeiro single ao instigar: "O que você quer mais, alegria, dinheiro ou paz?". Essa visão de mundo, que entrelaça arte e teoria, a torna uma voz única no cenário indie brasileiro, onde o rock oitentista ganha camadas psicanalíticas.

A inspiração de Télia não para na música. Vencedora do 3º lugar no Concurso Literário Nacional "Tâmaras" (promovido pela Amazon e Polo Cultural) e finalista do Prêmio LOBA 2025, ela continua escrevendo, mesmo após perder um celular cheio de poemas inéditos em um roubo – um revés que adiou planos para um novo livro, mas não a deteve. "A poesia surge sem aviso; eu não me sento para escrever, ela aparece", diz. Quanto ao futuro, Télia não separa escrita e canto: "São duas coisas que andam de mãos dadas. Pretendo seguir cantando e escrevendo, porque isso salva, e já me salvou várias vezes".
O próximo capítulo dessa jornada inspiradora acontece em 14 de outubro de 2025, no Ton Ton Jazz & Music Bar, em Moema (São Paulo), como parte do Festival Autoral. Será seu primeiro show totalmente autoral e elétrico com banda completa, prometendo surpresas e uma troca energética com o público. "Quero transmitir minha verdade, porque eu não sou fabricada, sou de verdade", afirma.

Em uma era de algoritmos e fama instantânea, Télia lembra que o verdadeiro reconhecimento vem da persistência e da conexão genuína. "Um Novo Lugar" é um manifesto para artistas independentes gritarem sua existência, provando que, mesmo com poucos streams, uma voz autêntica pode ecoar longe.
Veja o clipe de "Retratos Selvagens" no YouTube:

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