Télia em Dissonância: entrevista exclusiva
- Tião Folk
- 19 de set.
- 7 min de leitura
Por Tião Folk, 19/09/2025 às 08:30

Em uma entrevista exclusiva à Revista Dissonância, a cantora, compositora e poetisa paulistana Télia abriu o coração, compartilhando detalhes sobre suas composições, que misturam rock oitentista com reflexões psicanalíticas e sociais. Com franqueza, ela revelou como um sonho com Cazuza inspirou seu single "Retratos Selvagens", falou sobre a potência de "Um Novo Lugar" como hino de autoaceitação e discutiu suas perspectivas para uma carreira que entrelaça música, poesia e impacto social, prometendo emocionar no palco do Festival Autoral no Ton Ton Jazz, em outubro de 2025.
Dissonância: O que a música “Um Novo Lugar” representa para você como artista independente?

Télia: Um Novo Lugar enquanto artista representa o grito sobre o qual eu falo na letra da música, aquele grito que diz “eu existo! Olha, eu tô aqui!” Ela veio para que eu realmente pudesse me apresentar, ela veio como um hino de autoaceitação e de existência. Meu principal objetivo com essa música é que todas as pessoas que de certa forma se sentem invisíveis que elas possam ter a coragem de assumir quem elas realmente são, de descobrir o que elas realmente querem e de depois disso baterem o pé no chão e gritarem também “eu existo!”. Porque todos nós somos estrelas, todos nós queremos brilhar. Mesmo quando a gente não é capaz de ver isso dentro da gente. E ninguém deve se sentir no poder de apagar isso. Nós somos diferentes, nós somos únicos e cada um tem o seu brilho igualmente importante para o mundo.
Dissonância: Se você se colocar no lugar do eu-lírico, a canção tem alguma relação com a sua vida pessoal?

Télia: Sim, se for pensar na minha vida pessoal, “Um Novo Lugar” tem sim conexão com essas pequenas revoluções que a gente passa ao longo da vida, tanto por um sentido mais amplo, que é o de que eu sou mulher e venho de uma genealogia materna composta por mulheres do lar e conservadoras, para as quais você fazer o que gosta, somente pelo prazer, não era algo aceitável. E aí eu vim quebrar esse padrão. No momento em que eu coloco o pé no palco, seja ele minúsculo ou grande, ou que eu entro no estúdio para gravar, buscando em troca a recompensa emocional de identificação com as pessoas que ouvem, eu já tô desafiando esse que seria o meu destino, se eu aceitasse calada. E outras coisas também, por exemplo, recentemente eu abri mão de um cargo público, onde eu era concursada, troquei o certo pelo duvidoso, buscando me recolocar em uma área profissional onde eu me sentisse realizada, valorizada e que tivesse a ver com aquilo que eu amo que é a área de impacto social. E aí, através dessa decisão, que foi muito difícil, eu pude perceber que é preciso coragem para ouvir o que sente, mas é preciso o dobro da coragem para deixar pra trás aquilo que a gente já conquistou. Então, eu estou sim num momento de transformação bem radical e essa música dialoga com isso.
Dissonância: Você é “Socióloga e psicanalista de formação”, isso facilita na hora das composições? Dentro das teorias da psicanálise qual você acha que mais se adequa ao contexto das suas composições?

Télia: O fato de eu ser Socióloga e Psicanalista de formação acaba interferindo sim na minha maneira de ver o mundo e, por consequência, nas coisas que eu vou tender a escrever, seja nas músicas, nos poemas, nos artigos que eu faço e eu gosto de falar sobre isso, de perceber essas contradições da sociedade, esses dilemas que nós enfrentamos, sobretudo aqui na grande cidade e transformar isso em arte. Dentro das teorias da psicanálise a que eu acho que mais se adequa às minhas canções atualmente, é tanto o fortalecimento do ego que Freud vê como uma consequência da análise pessoal. A análise é feita para você revelar o que existe no seu inconsciente, porque é o que está no seu inconsciente que modela o seu comportamento na realidade. Então você descobrindo a ponta do iceberg, o que tem por trás do que você é, você consegue ter mais liberdade para ser o que você quiser. E “Um Novo Lugar”, especialmente, dialoga totalmente com a psicologia analítica do Carl Jung, da qual eu sou também muito admiradora, que é a individuação. É um conceito que fala exatamente sobre descobrir quem a gente é e se tornar quem a gente é como a finalidade da vida, como uma coisa extremamente importante para o nosso bem-estar. E eu concordo totalmente com isso. Eu falo sobre isso no meu primeiro single, quando eu pergunto: “o que você quer mais, a alegria, dinheiro ou paz?” Tentando instigar uma reflexão sobre o que a pessoa realmente quer, e isso está em consonância com as escolhas que ela faz. E também no “Um Novo Lugar” que eu deixo claro mesmo: vamos ser quem somos, vamos nos assumir e vamos ser felizes.
Dissonância: Como foi o sonho que você teve com Cazuza e como isso te inspirou a compor a música Retratos Selvagens?

Télia: Primeiro que eu já sou muito admiradora dos anos 80, das músicas, da sonoridade, da energia, dos estilos que os roqueiros que eu gosto, e o pessoal do pop, utilizava, eu gosto muito disso. Aí eu estava dormindo, plena, e sonhei que o Cazuza cantava uma música que dizia: “dessa vez eu nem sei como eu sobrevivi”. Acordei e fiquei com aquilo na cabeça, essa frase e esse ritmo. Falei, nossa! Será que essa música existe? Aí fui atrás e não, não existia. Então eu falei: “vou fazer existir! (risos). Peguei os instrumentos e trabalhando o resto da música até completar e ficou essa temática de um viajante que já viu de tudo nas suas andanças, que quer saber se alguém sente falta dele. Como uma homenagem também a vários amigos meus, músicos, que vivem viajando, tanto para tocar em vários estados, várias cidades, quanto às vezes num cruzeiro. Muitas vezes, quando você vive da música, você tem que se distanciar da família e do lar. Então eu misturei as coisas e fiz “Retratos Selvagens” e, em homenagem ao oitentismo do compositor astral que é o Cazuza. Falei para o meu produtor musical que é o Gabriel Martini: ó, vamos fazer uma música anos 80. Aí ele fez os arranjos totalmente inspirados nos anos 80. Eu também no clipe coloquei um visual que misturava o rock com pop na minha aparência e ficou anos 80. E uma homenagem ao Cazuza. Coincidentemente, várias pessoas, sem saber dessa história (porque eu tô revelando para vocês da Dissonância) me disseram: tua música me lembrou Barão Vermelho e me lembrou Cazuza. Aí eu fiquei feliz porque o plano deu certo.
Dissonância: Você vai participar do Festival Autoral em outubro, vai ser sua primeira vez num palco maior? O que você espera transmitir ao público quando subir no palco?

Télia: Na verdade eu estou nos palcos desde 2020. Comecei a fazer aulas de canto em 2015, aí em 2020 comecei a ter essa experiência de cantar em alguns bares, casas de shows, mas sempre fazendo covers de rock. Trabalhei também numa escola de música como cantora convidada, junto com os alunos dos instrumentos musicais, durante uns três anos, o que foi muito enriquecedor porque eu adoro esse ambiente de aprendizado. Tive também duas bandas em que eu me uni a outros músicos e nós cantávamos covers. E apresentávamos em vários locais, o maior deles foi um palco na Avenida Paulista em homenagem ao “Outubro Rosa”. Nessas oportunidades já toquei autoral em formato acústico. Mas um show totalmente autoral e elétrico, junto com a banda, será a primeira vez no Ton Ton Jazz, no dia 14 de outubro. Então eu estou ansiosíssima, porque tocar autoral realmente é uma sensação diferente. E o que eu quero transmitir para o público é a minha verdade. Eu quero passar a minha verdade, porque eu não sou fabricada, eu sou de verdade. Então eu quero que eles sintam essa verdade e se identifiquem e se conectem e se divirtam, porque o cantor é um profissional do entretenimento. Eu quero alegria, quero o pessoal cantando junto. Quero a troca de energia com o publico que é uma coisa que eu adoro e que me deixa sempre muito alegre.
Dissonância: Você conquistou o 3º lugar no Concurso Literário Nacional "Tâmaras", promovido pela Amazon e Polo Cultural, e atualmente concorre ao Prêmio LOBA 2025, mostrando talento tanto na escrita quanto na cantoria. Os fãs já podem esperar um novo livro?

Télia: Eu nunca parei de escrever, continuo escrevendo. Tenho uma página literária no Instagram, onde eu estou sempre publicando poemas, tanto autorais, quanto de outros autores; e tenho também um Blog, no qual eu escrevo artigos um pouco mais científicos, voltados para os temas da sociologia, da psicanálise etc. Então eu estou sempre na ativa. Com relação a um livro, vai demorar um pouquinho, porque a poesia especificamente é algo que vem sem aviso prévio. Eu não me sento na frente do computador e penso, agora eu vou escrever poesia. Não, ela vem, ela surge, ela aparece. Você tá na rua, tá tomando banho, tá comendo, tá passeando, surge uma poesia ali na sua cabeça. Então para dar conta desse imediatismo e não perder as ideias, eu comecei a escrever os poemas no celular mesmo, porque o celular tá sempre no bolso, não importa onde a gente esteja. E, como moro em São Paulo, roubaram o celular e eu despreparada (culpa minha), não tinha salvado na nuvem, não tinha backup desse material que era longo, renderia um livro, com certeza, e perdi. Eu tenho ainda o que foi publicado na rede social e algumas anotações que eu fiz em outros dispositivos ou que fiz à caneta mesmo. Mas esse material que era o que eu já estava pensando em lançar como livro, ele foi subtraído. Então, por conta disso, vai demorar um pouco o lançamento de um próximo livro. E tenho atualmente me dedicado um pouco mais a parte das ciências sociais mesmo. Então pode ser que o livro seja baseado nos artigos sobre sociologia e psicanálise também, estou pensando. O que vier primeiro, vocês ficarão sabendo.
Dissonância: Você vai priorizar sua carreira como escritora ou como cantora?

Télia: Eu não vejo como separar as duas coisas, porque no momento em que eu componho uma música e componho também a letra, a letra é um poema. No momento em que eu escrevo um poema, ele pode ser tornar também a letra de uma música. Então são duas coisas que andam de mãos dadas, a meu ver. Pretendo seguir cantando e seguir escrevendo. Claro que as coisas vão acontecendo conforme a gente vai andando. Conforme a gente vai prosseguindo, as portas vão se abrindo e eu pretendo entrar pelas portas que se abrirem. Mas a arte é uma parte da minha vida que eu não consigo viver sem. Então pretendo cantar, pretendo escrever, porque isso salva. E já me salvou várias vezes e eu sigo na expectativa também de salvar outras que possam se conectar com a minha arte


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