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Alan Pear e o poder da introspecção: “Inter Ruptor EP” um manifesto da arte independente

Por Natália Benevides, 01/11/2025 às 08:27


alan pear interruptor

Não, ele não sai de uma lâmpada mágica, mas Alan Pear, ou melhor, Aladdim (nome de batismo), parece ter feito um pacto com o gênio da criatividade. Longe de Agrabah e sem tapete voador, o cantor e compositor paraibano lança o 'Inter Ruptor EP', seu primeiro EP, com quatro faixas que brilham como as letras mágicas de um feitiço autoral.


alan pear interruptor

Disponível desde 10 de outubro de 2025 em plataformas como Spotify, YouTube e Apple Music, o trabalho de 23 minutos e 12 segundos prova que, com ou sem três desejos, Alan conjura poesia profunda e sons fora da curva direto do seu Estúdio, em Santa Rita (PB). Prepare-se: esse Aladdim não precisa de um gênio para transformar palavras em revolução.


Diferente de um single, que pode ser impulsionado por uma campanha rápida nas redes, um EP exige uma estratégia de marketing mais robusta e um processo de gravação infinitamente mais complexo.


alan pear home estúdio
Alan Pear e seu home estúdio

Alan Pear, que assumiu a produção executiva, gravação, mixagem e masterização no seu Pensatori1 Estúdio, em Santa Rita (PB), teve que integrar as quatro músicas em um contexto coeso, formando um "círculo que fecha mais um ciclo", como ele mesmo descreve.


alan pear capsulo

Ao mesmo tempo, o EP se conecta à vasta obra do artista, de álbuns como Capsulo (2021) a singles anteriores, refletindo sua evolução de bandas como Anemone e Dolphins para a solo total.


Anemone:


Dolphins:


"Inter Ruptor" não é mero título: é um manifesto. Como explica Alan em posts nas redes, o nome evoca "interromper, romper, cortar", promovendo cooperação sobre competitividade e impedindo a "ruptura" entre a vida e seu ciclo natural, contra a "natureza morta" literal imposta por forças ocultas de mercado que não compreendemos plenamente.


As Profundezas das Letras: Um Enredo Íntimo e Revolucionário


alan pear com pandeiro

Em entrevista à Revista Dissonância, Alan destrincha as faixas, revelando letras profundas, nascidas de terapia, história pessoal e crítica social. Sua escrita foge de fórmulas: prioriza versos livres, sem apego a rimas, mas conectados em um fluxo poético que convida à reflexão.


Alan revelou que Egoself, faixa de abertura do EP, marca um ponto de reconciliação entre suas múltiplas identidades, a artística e a pessoal. “A letra parece até a morte do ego”, diz o artista. “Mas não, a gente pode entender também como a conciliação entre essas duas instâncias do ser.” É nesse jogo entre o eu e o outro que o EP começa: com o cantor encarando suas próprias sombras, questionando o papel do ego e o sentido de ser um artista em tempos de exposição constante. Inspirada em sua terapia, a música explora a conciliação entre pseudônimo (Alan Pear) e eu verdadeiro (Aladdim), como uma "morte do ego" ou fusão de instâncias do ser.

"Ter que ir até o fim é ir longe demais, antes melhor partir para o céu dos ancestrais"

A segunda faixa, Eu Quero o Real da Vida, traz o espírito do blues que sempre acompanhou Alan desde os tempos de “Sobre Botas” (início de carreira). Ele descreve a canção como uma espécie de libertação formal, uma escrita solta, quase falada, que flui como pensamento em voz alta. “É sobre inadaptação ao sistema, sobre ser você mesmo em meio a esse caos”, diz ele, após dissertar uma página inteira para compreendê-la. É um manifesto de autenticidade e de resistência artística, temas que atravessam toda a obra do cantor.


Mas é em 1976 (Uma Nova Canção de Amor) que Alan rompe uma barreira pessoal. Pela primeira vez, Alan mergulha no amor romântico, superando um "autopreconceito" ligado à sua orientação sexual e ao ano de nascimento. Escrita em 2003, reescrita agora, é pessoal e vulnerável: "Havia uma resistência em escrever letras românticas". Ele, que por anos evitou escrever sobre amor, encara o tema com vulnerabilidade e maturidade. Ao transformar esse bloqueio em música, ele revisita o passado com ternura, e o resultado é uma das faixas mais emocionais de sua carreira.


O EP se encerra com Tudo Que Eu Sei Está Errado, uma reflexão contundente sobre o nosso tempo, a era da tecnologia e a reconfiguração dos comportamentos humanos. “A gente atribui vida às máquinas como se elas tivessem vida própria”, diz Alan. A canção, escrita originalmente em 2002 e revisitada agora, funciona como síntese filosófica do disco: o desencaixe entre o homem e o mundo, a busca por sentido num tempo em que tudo parece ser programado.


Voz Peculiar, Instrumental Fora da Caixa: Indie com Alma


alan pear show

Com uma voz peculiar, rouca e hipnótica, e instrumental que mescla blues, synths, orquestrações e beats programados (muitos via VSTs), Alan, auxiliado apenas por Robson Feoli nos violões e baixos, sai da caixinha. O resultado? Um som alternative indie/folk rock que soa grandioso, gravado em home studio com poucos recursos. Cada faixa parece um espelho, e o reflexo que ele nos devolve é o de um artista que não teme se despir da própria pele para entender o que há por trás dela.


alan pear sentado

Pouco após o lançamento, Alan agradeceu: "A todos(as) que já escutaram, têm escutado e vão escutar", com link na bio para todas as plataformas. 'Inter Ruptor EP' é prova contundente de que o artista independente produz grandes obras.


alan pear pink floyd

Num cenário em que a indústria ainda impõe seus algoritmos e padrões, Alan Pear faz o caminho inverso: produz, grava, escreve, reflete e entrega uma obra que é pura inteireza. “Inter Ruptor EP” é um lembrete de que o real poder da música independente está naquilo que não pode ser fabricado: a verdade de quem canta.


alan pear entrevista exclusiva


alan pear página bio-discográfica


Ouça Egoself de Alan Pear:


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