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Francine Cruz: A Escritora Independente que Desafia o Brasil Não Leitor

Por Natália Benevides, 08/10/2025 às 20:00


francine cruz livros

Em um país onde mais da metade da população não abre um livro há meses, ser escritora independente é mais do que um ofício: é um ato de resistência. Francine Cruz, poeta, professora e doutora em Educação pela UFPR, sabe disso melhor do que ninguém. Com 10 livros publicados, de romances como Amor, Maybe (2011) a poesias infantis premiadas como Poemas para brincar nas quatro estações (2023) e sem o apoio de grandes conglomerados editoriais, ela enfrenta o desafio de conquistar leitores em um país onde, segundo pesquisas recentes, mais da metade da população não lê regularmente.

francine cruz poemas para brincar

Em entrevista exclusiva à Revista Dissonância, ela reflete sobre a multiplicidade de sua escrita. Assim ela respondeu quando perguntamos: Você é autora de 10 livros, incluindo o premiado “Poemas para brincar nas quatro estações” e o recente “(Sobre)Viver e morrer num corpo de mulher”. Como você transita entre diferentes gêneros literários e o que inspira a escolha de cada formato para contar suas histórias?


Minha literatura é, acima de tudo, múltipla e não-linear; eu não consigo ficar presa em uma única forma de expressão. A escolha do formato é ditada pela própria urgência e natureza da história ou do tema que me toca. A pureza da infância e a delicadeza da natureza de Poemas para brincar nas quatro estações pediram a estética simples e lúdica do haicai, enquanto a complexidade e a necessidade de reflexão sobre a jornada feminina em (Sobre)Viver e morrer num corpo de mulher exigiram uma linguagem poética mais densa e visceral para tocar nas feridas sociais e nas celebrações do corpo. É o tema que escolhe o gênero, não o contrário."

Nascida em Curitiba, Francine Cruz começou sua jornada literária na adolescência, com poemas que capturavam "amores platônicos e sentimentos de incompreensão". Essa origem emocional moldou sua obra diversa, abrangendo poesia, romance e literatura infantil. Como ela respondeu ao ser questionada: Sua trajetória literária começou na adolescência com poemas que expressavam amores platônicos e sentimentos de incompreensão. Como essa experiência inicial moldou sua escrita atual, especialmente em gêneros tão diversos como poesia, romance e literatura infantil?

"Essa fase inicial, na adolescência, foi essencial, pois me ensinou a encontrar uma válvula de escape e um refúgio na palavra, transformando sentimentos crus e intensos em poesia. O que essa experiência legou à minha escrita em todos os gêneros foi a busca pela sinceridade emocional; mesmo ao criar um enredo complexo em um romance ou ao abordar o luto na literatura infantil, busco sempre essa conexão autêntica com o sentir do leitor. Aquela jovem que escrevia sobre amores platônicos estabeleceu a fundação de que a emoção, a humanidade, é o ingrediente básico de qualquer boa história. Para que chegue no coração dos leitores, a história precisa nascer do coração da escritora".
francine cruz vovô foi embora

Livros como Vovô foi embora, mas deixou muita história (2023), uma homenagem ao avô contador de histórias, exemplificam essa abordagem, ressignificando temas difíceis como o luto para o público infantil.


Os desafios de uma carreira independente se agravam em um contexto onde o acesso à literatura é limitado, mas Francine transforma obstáculos em oportunidades por meio de projetos como o canal Senhora Literatura no YouTube. Com mais de 10 mil inscritos, o canal promove resenhas e entrevistas, ampliando o alcance de escritores marginais. Na entrevista exclusiva, perguntamos à Francine: Seu canal no YouTube, Senhora Literatura, criado em 2020, tem foco em promover autoras mulheres e escritores paranaenses. Qual foi o impacto desse projeto na sua carreira e na visibilidade de autores menos conhecidos?

"O canal Senhora Literatura nasceu como uma resposta à solidão da pandemia, mas rapidamente se tornou uma plataforma de ativismo literário. O impacto tem sido profundamente positivo, pois solidificou meu papel não apenas como escritora, mas como uma agente de visibilidade: é um espaço para defender e advogar pela autoria de mulheres, corrigindo a histórica invisibilidade que enfrentamos. Ao focar em autores paranaenses e em outras vozes menos conhecidas, ajudamos a descentralizar o mercado e a mostrar a riqueza e a diversidade da produção regional para o Brasil e o mundo".

As redes sociais são outra frente de batalha e inovação para Francine. No Instagram (@francinecruzescritora), ela constrói comunidades engajadas, contrariando a dualidade da internet. Compartilha a escritora:

"É verdade, a internet é uma faca de dois gumes, que tanto distrai quanto conecta. Eu tento utilizar minhas redes sociais para contrariar a ideia de que o tempo online é sempre um prejuízo para a leitura, transformando-o em um momento de cultura e apreciação literária. Minha estratégia é ir além da mera divulgação, criando uma comunidade na qual compartilhamos citações, reflexões sobre o processo de escrita e, o mais importante, destacamos e valorizamos a literatura de outras autoras, promovendo um diálogo contínuo e apaixonado sobre o universo dos livros".

Essa abordagem rendeu frutos, como a classificação como semifinalista no concurso TikTok Livros do Futuro com Quatro Vezes Primavera, e expandiu sua presença para além das fronteiras.


francine cruz la obra poetica

A internacionalização de sua obra, como a tradução e lançamento de La Obra Poética de Ana Cristina Cesar: Resignificación del Biografismo (2023) na Argentina, representa um marco. Francine revela à Dissonância:

"Ver um trabalho, especialmente um ensaio acadêmico, atravessar fronteiras e ser traduzido para o espanhol é um momento profundamente representativo na vida de um autor. A experiência de lançar La Obra Poética... em Buenos Aires, participando de uma caravana de autores brasileiros, permitiu um networking valioso e, principalmente, a expansão do meu público leitor para além do nosso país. Meu plano agora é continuar a participar de feiras e eventos internacionais e, idealmente, ver meus romances e poesias também traduzidos, pois a tradução é a ponte definitiva para a troca cultural e novos leitores".
francine contistas

Integrante de coletivos feministas como As Contistas e Vozes Escarlate, ela publica em antologias e usa sua formação acadêmica, incluindo o doutorado em 2025 sobre educação antirracista, para enriquecer sua arte.


Escritores independentes como Francine Cruz são essenciais para fomentar uma cultura leitora mais inclusiva, democratizando narrativas que vão de haicais lúdicos a reflexões sociais profundas. Perguntamos à Francine: Para o segundo semestre de 2025, sua agenda apresenta participações em eventos como a 44ª Semana Literária do SESC e a possibilidade de um novo livro autoral. Quais são suas expectativas para esses projetos e como você enxerga o futuro da sua carreira como escritora e educadora?

"A 44ª Semana Literária do SESC é sempre uma excelente oportunidade para a troca direta com os leitores e com outros artistas, nutrindo o meu próprio processo criativo e eu adoro participar de eventos assim. Quanto ao novo livro autoral, a possibilidade de um novo projeto é sempre muito estimulante, estou animada com o lançamento que deve acontecer em dezembro. Para o futuro, enxergo a minha carreira cada vez mais integrada, onde a escritora e a educadora se complementam: utilizo meu conhecimento acadêmico para fundamentar minhas obras e a minha arte para fomentar a leitura e o pensamento crítico na educação, mantendo esse fluxo constante entre a criação e a reflexão".

Veja os livros lançados pela Francine Cruz:


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