A Olívia responde: “Obrigado Por Perguntar”
- Fábio Drummond

- 23 de out.
- 5 min de leitura
Por Fábio Drummond, 23/10/2025 às 09:30

Há quem diga que o rock brasileiro anda tímido. A Olívia discorda com uma boa dose de guitarras, sintetizadores e ironia. A banda paulistana lançou recentemente seu novo álbum Obrigado Por Perguntar, uma viagem entre o existencialismo urbano e a fina arte de rir da própria tragédia. O disco, disponível nas plataformas de streaming, é o tipo de resposta que ninguém pediu, mas que todos precisavam ouvir.

Formada em 2014 na selva de concreto de São Paulo (com um baterista diretamente importado de Maceió para dar aquele toque tropical), a banda nasceu quando Louis Vidall, vocalista e guitarrista, se inspirou no nascimento da sua prima Olívia. Um caso de família que virou rebelião musical, provando que até recém-nascidos podem acender uma revolução, com guitarras no lugar de chocalhos.

A história começou mesmo no primeiro álbum, Jardineiros de Concreto, que brotou em julho de 2017 como uma flor improvável no asfalto. Com faixas como “Arruda”, “Moicanos”, “Dorinha” e “Macaco”, era um passeio lúdico e descritivo pela vida urbana, valorizando o indivíduo no meio do caos jovem e metropolitano. Letras bem-humoradas e ritmos variados, melodias agressivas flertando descaradamente com gêneros alternativos, garantiram elogios de portais como Tenho Mais Discos que Amigos, Mais Brasil, Hits Perdidos e Minuto Indie, chegando até à lista dos 23 Melhores Álbuns Brasileiros de 2017 do último. Nada mal para um grupo independente que, sejamos honestos, provavelmente ainda estava descobrindo como pagar por amplificadores decentes.
Ser independente, aliás, não é mole. Navegar na indústria musical é como tentar pegar um táxi na hora do rush em São Paulo: competição braba, tendências que mudam mais rápido que promessa de político e a tentação constante de fazer algo só pra viralizar no TikTok. Louis Vidall (voz e guitarra), Pedro Tiepolo (baixo), Pedro Lauletta (bateria) e Marcelo Rosado (guitarras), junto com o diretor criativo Diogo Pacífico (que cuida dos visuais), equilibram jobs diurnos pra bancar a paixão. “É uma briga”, disse Vidall certa vez, com aquele tom seco, destacando a importância de manter a sinceridade em vez de fabricar hits.
Na pandemia, eles se viraram remotamente, parindo o EP Output em 2020, acústico e cheio de angústia, refletindo o isolamento, e seu irmão introspectivo Input, mergulhando na autodescoberta em tempos esquisitos. A formação mudou um pouco, mas saíram mais fortes, como uma fênix que tomou uns cafés a mais.

Em 2024, veio o projeto Selva Rock Brasileira, um EP selvagem com influências de Echo and the Bunnymen a Midnight Oil. Começou com o single “Quando Você Vem” em junho, com um clipe animado explorando o lado bruto da natureza humana. Humanizando animais, simbolizava instintos e liberdade. O destaque, “Lobo-Guará” — intenso, provocador e ligado à fauna do cerrado brasileiro (sim, aquele lobo da nota de 200 reais) —, ganhou um clipe animal filmado em A Porta Maldita, elevando a produção da banda e passando de 100 mil views. Foi o lançamento favorito deles, uma piscadela marota para um estilo “selva rock” que é só deles, sem precisar de cipós pendurados no palco.

Mas o grande trunfo veio em julho de 2025 com Obrigado Por Perguntar, um álbum de 13 faixas que caiu como uma bomba educada. Produzido por Kaneo Ramos e com mixagem e masterização de Zeca Lemos no BTG Studio, é um salto sonoro, mais teclados, coros e um olhar global em comparação com as histórias urbanas e centradas em personagens do primeiro disco.
Como Vidall explicou em entrevista à Mad Sound em agosto de 2025, é menos sobre pontos de vista individuais numa cidade louca e mais sobre perspectivas coletivas diante dos problemas do mundo, do desespero ambiental em “Insustentável” à parceria comovente em “Histórias Que Não Escrevi”, coescrita com Tiepolo e inspirada numa perda trágica. As influências? Queens of the Stone Age, Beatles, Red Hot Chili Peppers, Foo Fighters, Talking Heads e os nacionais Paralamas do Sucesso.
A mensagem? Otimismo em meio às chamas, seja vulnerável, deixe o blasé no armário e lembre-se: o rock é pra ser divertido, contestador e dançante, não um monólogo triste. Uma crítica elogiou o álbum por romper os limites do rock brasileiro, misturando punk, reggae, indie, pop e hardcore em uma fúria poética e bem-humorada.
Para espalhar esse inconformismo alegre, A Olívia pegou a estrada com a turnê Obrigado Por Perguntar, provando que até artistas independentes podem conquistar o país sem vender a alma (ou pelo menos não em público). Começaram em Belo Horizonte, em setembro de 2025, na estreia em Minas Gerais, no Underground Black Pub.
Depois, Rio de Janeiro, com uma “noite incrível” na Audio Rebel, dividindo palco com Maretardia, Canto Cego e um convidado especial do Chicko Noise, rendendo papos deliciosos sobre música e vida na estrada.

Em São Paulo, um momento de glamour: em 27 de setembro, fizeram o esquenta para o ídolo Frejat no Tokio Marine Hall, começando pontualmente às 19h30, e curtiram o carinho dos fãs que lotaram o espaço pra conversar e seguir a banda.

O ponto alto? A estreia em Brasília, em 18 de outubro de 2025, no Infinu BSB — sim, a capital, aquele lugar mítico onde política encontra... mais política. Dividindo o palco com os amigos da Banda Zimbra (graças à Mara Music MKT), ficaram encantados com o calor do público, que deve ter rivalizado com um dia de sol em Londres.

“Muito obrigado por nos receberem tão bem na nossa primeira vez na capital!”, agradeceram no Instagram, honrando a honra. Ressuscitaram “Lobo Guará” pro setlist — perfeito, já que o bicho é símbolo da região — e, com certo pesar, deixaram “Incêndio em Mim” na reserva.
Cada show é único, disseram, especialmente com um álbum novo que força escolhas difíceis. O público? Amou. O lugar? Acolhedor. A banda deve ter saído achando que descobriu um continente novo, ou pelo menos um CEP muito animado.
O que vem pela frente? A turnê segue com aquele entusiasmo discreto:
1º de novembro em Juiz de Fora, no O Maquinaria;
14 de novembro de volta a São Paulo, no Picles Cardeal; e
29 de novembro em São Vicente, no Coletivo Sardinhada.
Se a jornada d’A Olívia nos ensina algo, é que, num mundo em chamas, um pouco de rock, humor e proatividade vai longe, sem pesar o clima, claro. Vá ver um show deles; quem sabe, talvez você até ganhe um “obrigado por perguntar”.
Veja o clipe oficial de Entretenimento:
FICHA TÉCNICA
Direção, edição e animações: Pedro Tiepolo
Produção e conceito: Louis Vidall e Pedro Tiepolo
Fotografia e cor: Leo Mayer
Luz: Henrique Cezarino
Assistente de luz: Roger Siqueira
Gravado no estúdio Butterfly Studio
Produção executiva: A Olívia
Produção musical: Kaneo Ramos
Mixagem e Masterização: Zeca Leme
LETRAS
Eu falo desse jeito
Pra te arrancar um riso
Hoje meu compromisso
É te ver feliz
Eu falo assim brincando
Mas sei quando ser sério
Em termos de mistério
Ainda sou um aprendiz
A vida por um sopro
É um soco na barriga
A terra por um triz
Direto no nariz
Todo romance novo
É uma grande aventura
Sem jogo de cintura
Não tem como
Eu falo desse jeito
Pra te arrancar um riso
Hoje meu compromisso
É te ver feliz
Eu falo assim brincando
Mas sei quando ser sério
Em termos de mistério
Ainda sou um aprendiz
Pode ser fatal
Amar de peito aberto
Vendo assim de longe
É difícil chegar perto
Os ditados estão trocados
E os valores em inversão
Mais vale pássaro voando
Do que preso em minhas mãos
Eu sei que os ombros pesam,
Você não sabe o quanto eu sei
As minhas ruínas
Foram tombadas por lei
Eu falo assim brincando
Mas sei quando ser sério
Desse ministério
Eu já fui juiz
Eu falo desse jeito
Pro ar ficar mais leve
Que a gente só carregue
O que a paz nos permitir
Eu falo até cantando
Que é pra te ver sorrindo
O mundo acabando
E a gente nem aí
Eu quero o teu riso
O teu beijo
Entre tantos
Entretenimento
Entretanto
Eu quero o teu riso
O teu beijo
Entre tantos
Entretenimento
Entretanto

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