Angélica Duarte consolida transição para o pop eletrônico com o álbum "Toska"
- Natália Benevides

- 19 de nov.
- 5 min de leitura
Por Natália Benevides, 18/11/2025

A cantora, compositora e produtora musical paulistana Angélica Duarte, radicada no Rio de Janeiro, lançou em outubro o seu segundo álbum completo, "Toska", marcando uma virada estética em uma carreira construída inteiramente de forma independente. Com produção, arranjos e grande parte da instrumentação assinados por ela mesma: voz, coros, guitarras, teclados, synths, baixo synth e programações.

O trabalho marca uma guinada estética: ela abandona (em parte) a instrumentação orgânica de seus primeiros registros e mergulha em sons eletrônicos, loops, sintetizadores e batidas do home studio, tudo sob seu controle criativo. O disco chega pelo selo YB Music e representa a consolidação de uma artista multifacetada que transforma formação erudita, influências roqueiras e experimentações eletrônicas em um pop debochado, dançante e profundamente autoral.

A trajetória de Angélica iniciou cedo, desde duetos de MPB e jazz no bar Umbabarauma em São Paulo, até concertos como o "Violões de Tiradentes - Um Universo ao Sul" em Minas Gerais. Assim ela foi construindo uma uma carreira sólida, começando por sua base na MPB e na música erudita. Chupa essa manda: ela é formada em Canto Lírico pela Escola Municipal de Música de São Paulo (EMMSP) e tem bacharelado em MPB e arranjo pela UNIRIO. Desculpa aí, mas é só pra quem pode.

Mas foi em 2018 que estreou para o mundo com o EP "Odara", um trabalho de estreia independente que reinterpretava clássicos de Caetano Veloso ("De manhã", "Odara" e "Tigresa") e já revelava sua solidez técnica como intérprete e arranjadora.

Três anos depois, em 2021, veio o álbum "Hoje Tem", inteiramente autoral, com participações de peso como Letrux (em "Música infantil para adultos") e Juliana Linhares (em "Mais discreto"). O disco figurou em listas de melhores do ano de veículos como Tenho Mais Discos Que Amigos! e Hits Perdidos, comprovando que uma artista independente, sem grande estrutura de gravadora, pode alcançar crítica e público com qualidade irretocável.

Entre esses marcos, Angélica manteve atividade constante: produziu o EP colaborativo "deuZONAS - vozes ferozes" (2024), dando espaço a novas vozes femininas da cena brasileira; foi contemplada por editais como ASA (Oi Futuro), Cultura Presente nas Redes (SECEC) e SESC Pulsar; e se apresentou em palcos relevantes como Festival Levada (2022), SIM São Paulo (2019), Coquetel Molotov e Circuito SESC SP.
“TOSKA”: o salto para a liberdade sonora
Em "Toska", lançado em 23 de outubro, Angélica assume completamente o comando. Gravado e mixado em seu home studio l0vynho, no Flamengo, o álbum troca a instrumentação orgânica de "Hoje Tem" por batidas eletrônicas, loops e sintetizadores aprendidos no processo. O crítico Mauro Ferreira, no blog do G1, destacou o tom irônico e feminista já na faixa de abertura "Day by Day" e elogiou a maturidade da artista em tracks como "Amiga", "Sua mãe só quer seu bem" e "Gostuesso", esta última com poema de Hilda Hilst recitado por Billy Crocanty.

O single prévio "Barriga de Lanche" (2023), com clipe, antecipou a nova fase: um pop eletrônico que fala de autoaceitação corporal sem rodeios.
O título "Toska" brinca com a ópera "Tosca" de Puccini, ecoando sua formação em canto lírico, e com a linguagem millennial da internet antiga ("kkkk", abreviações). É um disco que oscila entre melancolia, referenciando Radiohead, Garbage, e a pista de dança de um bom new wave brasileiro dos anos 80 e até funk carioca, tudo filtrado por um olhar feminino incisivo e sem concessões.
Angélica Duarte demonstra personalidade forte, e prova que visão clara e trabalho obstinado valem mais que qualquer estrutura corporativa. Bacharel em MPB e Arranjo, ex-aluna de canto lírico com professores como Manuela Freua e Vania Pajares, ela produz, arranja, canta, toca, leciona e ainda encontra tempo para lançar zines e planejar um livro de poesias. Em um mercado que mastiga e cospe artistas, ela segue plena, inteira, decidida e em ascensão.
Para quem ainda duvida se é possível viver de música sendo 100% independente: olhe para Angélica Duarte. Ela não pediu licença, construiu o próprio caminho, faixa por faixa, edital por edital, aluno por aluno.

"Toska" não veio para ser um grande álbum pop brasileiro de 2025; veio para dar um recado direto: decida onde quer chegar, assuma todos os chapéus necessários e vá. O resto é desculpa.
Lição para artistas que estão começando (ou já na luta):
Após estudar a obra da Angélica Duarte, cheguei a uma listinha de coisas que ela faz (e faz bem) e que pode ajudar outros artistas independentes a trilharem seu próprio caminho.
Invista em técnica: a base erudita ou acadêmica (pra quem pode) fornece segurança e ferramentas para experimentar depois.
Produza você mesmo: aprender a usar home studio, softwares e sintetizadores pode abrir caminhos criativos e econômicos.
Seja seu próprio gestor artístico: Angélica não espera ordens de ninguém, ela dirige seus projetos.
Compartilhe conhecimento: ensinando canto ela não só ganha, mas fortalece sua rede e consolida autoridade artística.
Seja autêntico e firme: ter personalidade forte e visão clara não é arrogância: é valor para a sua arte.
Depois que fizer isso, aí sim você vai poder sonhar em ser igual à Angélica, uma artista que se recusa a ser moldada.
Veja o clipe de Barriga de Lanche:
BARRIGA DE LANCHE (LETRA)
Barriga de lanche
O zíper não fecha
Não sou elegante
E nem sou moderna
Eu não quero ser bonita de biquini
Eu já sou
Não vou passar fome pra tentar ser skinny
Eu não vou
Não vou me matar de fazer regime
Imagina só ficar sem batata frita
Bolinho, pastel e drink
Barriga de lanche
O zíper não fecha
Não sou elegante
E nem sou moderna
Barriga de lanche
O zíper não fecha
Não sou elegante
E nem sou moderna
Vou trocar meu jeans por um moletom
O meu salto por um sapato bom
A minha raiva por beijinho e bombom
Eu não quero desespero
Na hora de sair de casa
De me olhar no espelho
Na hora de comer o meu lanchinho
Fora de hora
Barriga de lanche
O zíper não fecha
Não sou elegante
E nem sou moderna
Barriga de lanche
O zíper não fecha
Não sou elegante
E nem sou moderna
Barriga de Lanche
Barriga de Lanche
Barriga de Lanche
Barriga de Lanche
Barriga de Lanche
Barriga de Lanche
FICHA TÉCNICA DA FAIXA:
Composição e Produção Musical de Angélica Duarte.
Voz, coro, guitarra, baixo synth, teclas, bateria eletrônica e programações: Angélica Duarte
Baixo elétrico: Pablo Arruda
Mixagem: Rômulo Mendes
Consultoria de Mix: Guilherme Chiappetta
Masterização: Felipe Tichauer

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