top of page

Angélica Duarte consolida transição para o pop eletrônico com o álbum "Toska"

Por Natália Benevides, 18/11/2025


angélica duarte com violão

A cantora, compositora e produtora musical paulistana Angélica Duarte, radicada no Rio de Janeiro, lançou em outubro o seu segundo álbum completo, "Toska", marcando uma virada estética em uma carreira construída inteiramente de forma independente. Com produção, arranjos e grande parte da instrumentação assinados por ela mesma: voz, coros, guitarras, teclados, synths, baixo synth e programações.


angélica duarte toska

O trabalho marca uma guinada estética: ela abandona (em parte) a instrumentação orgânica de seus primeiros registros e mergulha em sons eletrônicos, loops, sintetizadores e batidas do home studio, tudo sob seu controle criativo. O disco chega pelo selo YB Music e representa a consolidação de uma artista multifacetada que transforma formação erudita, influências roqueiras e experimentações eletrônicas em um pop debochado, dançante e profundamente autoral.




Angélica Duarte dueto
Angélica Duarte em Dueto no Umbuarauma/SP - 2015

A trajetória de Angélica iniciou cedo, desde duetos de MPB e jazz no bar Umbabarauma em São Paulo, até concertos como o "Violões de Tiradentes - Um Universo ao Sul" em Minas Gerais. Assim ela foi construindo uma uma carreira sólida, começando por sua base na MPB e na música erudita. Chupa essa manda: ela é formada em Canto Lírico pela Escola Municipal de Música de São Paulo (EMMSP) e tem bacharelado em MPB e arranjo pela UNIRIO. Desculpa aí, mas é só pra quem pode.


Angélica Duarte odara

Mas foi em 2018 que estreou para o mundo com o EP "Odara", um trabalho de estreia independente que reinterpretava clássicos de Caetano Veloso ("De manhã", "Odara" e "Tigresa") e já revelava sua solidez técnica como intérprete e arranjadora.


angélica duarte hoje tem

Três anos depois, em 2021, veio o álbum "Hoje Tem", inteiramente autoral, com participações de peso como Letrux (em "Música infantil para adultos") e Juliana Linhares (em "Mais discreto"). O disco figurou em listas de melhores do ano de veículos como Tenho Mais Discos Que Amigos! e Hits Perdidos, comprovando que uma artista independente, sem grande estrutura de gravadora, pode alcançar crítica e público com qualidade irretocável.


angélica duarte deuzonas

Entre esses marcos, Angélica manteve atividade constante: produziu o EP colaborativo "deuZONAS - vozes ferozes" (2024), dando espaço a novas vozes femininas da cena brasileira; foi contemplada por editais como ASA (Oi Futuro), Cultura Presente nas Redes (SECEC) e SESC Pulsar; e se apresentou em palcos relevantes como Festival Levada (2022), SIM São Paulo (2019), Coquetel Molotov e Circuito SESC SP.



“TOSKA”: o salto para a liberdade sonora

Em "Toska", lançado em 23 de outubro, Angélica assume completamente o comando. Gravado e mixado em seu home studio l0vynho, no Flamengo, o álbum troca a instrumentação orgânica de "Hoje Tem" por batidas eletrônicas, loops e sintetizadores aprendidos no processo. O crítico Mauro Ferreira, no blog do G1, destacou o tom irônico e feminista já na faixa de abertura "Day by Day" e elogiou a maturidade da artista em tracks como "Amiga", "Sua mãe só quer seu bem" e "Gostuesso", esta última com poema de Hilda Hilst recitado por Billy Crocanty.


angélica duarte barriga de lanche

O single prévio "Barriga de Lanche" (2023), com clipe, antecipou a nova fase: um pop eletrônico que fala de autoaceitação corporal sem rodeios.


O título "Toska" brinca com a ópera "Tosca" de Puccini, ecoando sua formação em canto lírico, e com a linguagem millennial da internet antiga ("kkkk", abreviações). É um disco que oscila entre melancolia, referenciando Radiohead, Garbage, e a pista de dança de um bom new wave brasileiro dos anos 80 e até funk carioca, tudo filtrado por um olhar feminino incisivo e sem concessões.



Angélica Duarte demonstra personalidade forte, e prova que visão clara e trabalho obstinado valem mais que qualquer estrutura corporativa. Bacharel em MPB e Arranjo, ex-aluna de canto lírico com professores como Manuela Freua e Vania Pajares, ela produz, arranja, canta, toca, leciona e ainda encontra tempo para lançar zines e planejar um livro de poesias. Em um mercado que mastiga e cospe artistas, ela segue plena, inteira, decidida e em ascensão.


Para quem ainda duvida se é possível viver de música sendo 100% independente: olhe para Angélica Duarte. Ela não pediu licença, construiu o próprio caminho, faixa por faixa, edital por edital, aluno por aluno.


angélica duarte toska

"Toska" não veio para ser um grande álbum pop brasileiro de 2025; veio para dar um recado direto: decida onde quer chegar, assuma todos os chapéus necessários e vá. O resto é desculpa.


Lição para artistas que estão começando (ou já na luta):

Após estudar a obra da Angélica Duarte, cheguei a uma listinha de coisas que ela faz (e faz bem) e que pode ajudar outros artistas independentes a trilharem seu próprio caminho.


  1. Invista em técnica: a base erudita ou acadêmica (pra quem pode) fornece segurança e ferramentas para experimentar depois.

  2. Produza você mesmo: aprender a usar home studio, softwares e sintetizadores pode abrir caminhos criativos e econômicos.

  3. Seja seu próprio gestor artístico: Angélica não espera ordens de ninguém, ela dirige seus projetos.

  4. Compartilhe conhecimento: ensinando canto ela não só ganha, mas fortalece sua rede e consolida autoridade artística.

  5. Seja autêntico e firme: ter personalidade forte e visão clara não é arrogância: é valor para a sua arte.


Depois que fizer isso, aí sim você vai poder sonhar em ser igual à Angélica, uma artista que se recusa a ser moldada.


angélica duarte página bio-discográfica


Veja o clipe de Barriga de Lanche:


BARRIGA DE LANCHE (LETRA)

Barriga de lanche

O zíper não fecha

Não sou elegante

E nem sou moderna


Eu não quero ser bonita de biquini

Eu já sou

Não vou passar fome pra tentar ser skinny

Eu não vou

Não vou me matar de fazer regime

Imagina só ficar sem batata frita

Bolinho, pastel e drink


Barriga de lanche

O zíper não fecha

Não sou elegante

E nem sou moderna


Barriga de lanche

O zíper não fecha

Não sou elegante

E nem sou moderna


Vou trocar meu jeans por um moletom

O meu salto por um sapato bom

A minha raiva por beijinho e bombom


Eu não quero desespero

Na hora de sair de casa

De me olhar no espelho

Na hora de comer o meu lanchinho

Fora de hora


Barriga de lanche

O zíper não fecha

Não sou elegante

E nem sou moderna


Barriga de lanche

O zíper não fecha

Não sou elegante

E nem sou moderna


Barriga de Lanche

Barriga de Lanche

Barriga de Lanche


Barriga de Lanche

Barriga de Lanche

Barriga de Lanche


FICHA TÉCNICA DA FAIXA:

Composição e Produção Musical de Angélica Duarte.

Voz, coro, guitarra, baixo synth, teclas, bateria eletrônica e programações: Angélica Duarte

Baixo elétrico: Pablo Arruda

Mixagem: Rômulo Mendes

Consultoria de Mix: Guilherme Chiappetta

Masterização: Felipe Tichauer

Comentários


bottom of page