Sonja em Dissonância: entrevista exclusiva
- Clara Mello

- 1 de nov.
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Por Clara Mello, 01/11/2025 às 08:35
Entre o blues e o tarô, entre a fé e o rock’n’roll, Sonja construiu uma carreira marcada por intensidade, coragem e renascimento. Em uma conversa exclusiva com Clara Mello para a Revista Dissonância, a cantora carioca fala sobre o poder curativo da música, o simbolismo de seu álbum Rainha de Copas, a superação de momentos difíceis e a celebração de dez anos de estrada com a banda. Com sua voz rasgada e alma luminosa, Sonja transforma cada palavra em canção e cada cicatriz em arte, um testemunho vivo da força de quem escolheu existir com verdade.
Dissonância: Como foi o início da sua jornada musical aos 6 anos de idade, e qual o papel da sua família, especialmente da sua mãe, em incentivar esse talento?

Sonja: O início da minha jornada foi aos 6 anos. Eu já desde pequenininha, desde bem criancinha, muito antes dos 6 anos, eu já gostava muito de dançar e de aparecer, eu sempre fui muito expansiva. Eu acho que minha mãe em algum momento reparou que isso vinha de um lado artístico que eu acredito que tenha nascido comigo. E aí, aos 6 anos de idade, minha mãe me levou para uma aula de canto. Eu tava tomando banho e ela bateu na porta e falou ‘vambora, você vai se atrasar!’, eu falei, ‘se atrasar pra quê?’, ‘ah! Vou te botar numa aula de canto’. E aí entrei na aula de canto e descobri, na verdade minha mãe descobriu antes de mim o canto, ela teve essa sacada antes de mim, me botou nessa aula de canto e eu nunca mais parei de cantar. Essa escola que eu fazia aula de canto, o Antônio Adolfo, ela é uma escola que faz show no meio de ano e no fim de ano, aquele show em que os alunos se reúnem e fazem uma banda e tocam e isso foi muito importante para o começo da minha formação, subir ao palco tão nova. E a minha mãe foi muito importante principalmente, porque minha mãe ia em todas as apresentações. Ela falava coisas do tipo ‘se solta no palco!’, porque eu era muito dura. Tem vários vídeos meus quando criança que ela filmou. Tem um acervo de vídeos durante a minha evolução de idade. Eu era uma pessoa que chegava no palco, eu tinha muito vergonha, então eu ficava assim igual uma vara verde e parada e dura e cantando, sabe? Era afinadinha, mas também nem tanto, e minha mãe via isso, ela falava coisas do tipo ‘você precisa ocupar o palco’, ‘você tem que ser grande’, ‘você tem que olhar para as pessoas, não pode ter vergonha, tem que ser cara de pau’. E, além disso, minha mãe me ajudava a fazer minhas roupas de palco. A gente gostava de alguma referência e a gente ia lá e costurava ou pedia para a costureira e a gente fazia uns designs nas roupas que eu usava. Minha mãe sempre esteve presente em todo o processo da minha criação, não só enquanto pessoa, porque ela é minha mãe, mas enquanto artista também, essa influência dela vem lá de pequenininha, esse olhar que ela tem carinhoso sobre mim vem lá da infância. Então parte disso eu devo à minha mãe, com certeza.
Dissonância: Em 2014 você iniciou sua carreira no Blues e em 2015, você fundou a Caravana Cigana do Blues. O que motivou a criação dessa banda e como essa fase contribuiu para o seu desenvolvimento como artista?

Sonja: A Caravana Cigana do Blues tem uma história interessante porque ela não foi uma coisa pensada, tipo ‘ah! Vamos criar agora uma banda de Blues’. Mas ela se deu por conta de encontros de pessoas que faziam Blues no Rio de Janeiro. Primeiro eu conheci a Laranjeletric que era uma banda de Blues, Funk e Soul e foi aí que eu conheci o Marcão, o Marcos Lacerda, que trabalha comigo até hoje, é meu companheiro de música e tudo mais e o outro Marcos que tocava guitarra. Só que desse encontro, quando eu assisti o show da Laranjeletric eu fiquei tão impactada com o som deles que, quando o Marco Lacerda desceu do palco, eu falei ‘cara, a gente ainda vai fazer uma coisa juntos’. E a gente nem se conhecia, eu tava começando no Blues, eles já tinham mais tempo no Blues e eu tava começando no Blues. Eu fui na cara e na coragem, a gente ainda vai fazer alguma coisa juntos, porque eu sentia que aquilo ali fazia de alguma forma parte da minha caminhada. E eu tenho essa coisa de chegar para alguém e falar ‘a gente vai trabalhar juntos’ e se realizar. Tem algumas histórias legais com isso, inclusive uma com o Jeferson Gonçalves. Enfim, depois desse show da Laranjeletric, eu conheci esses meninos, vi que eles existiam e tudo mais. e aí, no decorrer dos dias, eu conheci um outro menino, o Luca Nerori que é um guitarrista excelente que hoje mora em Los Angeles, mas ele morava aqui no Rio de Janeiro e era músico de rua. Alguém falou para mim ‘Pô! Você tem que conhecer esse cara. Toca na rua, toca muito bem’. E aí, eu conheci o Luca. E numa dessa que conheci o Luca, onde ele me ligou, e, realmente, eu fui vê-lo tocar e falei ‘caralho! Esse cara é bom mesmo, né?’. E aí, um dia ele me ligou e falou, ‘você consegue pegar essas músicas aqui pra depois de amanhã? Pra gente fazer um show num bar na Barra’. Eu falei, claro! E eu não conhecia nenhuma das músicas (risos), todas Blues. Ele me deu uma lista de umas 20 músicas. E eu ‘Claro! Vamos fazer!’ (risos). Eu peguei essas músicas de um dia pro outro, literalmente, e aí a gente tocou juntos. E ainda falei ‘posso levar mais um guitarrista pra ficar uma coisa mais cheia?’. Levei o Marcos que era esse outro guitarrista que tocava na Laranjaeletric, e aí a gente começou a tocar na Barra, nós três. E começou a ficar muito bom. A gente teve uma ideia de fazer uma roda de blues, que a ideia era abrir o nosso show ali para outras pessoas que quisessem se achegar e tocar também Blues, cantar Blues. Que essas pessoas pudessem também vir e compartilhar daquele momento com a gente. Então surgiu antes da Caravana Cigana do Blues, a Roda de Blues. Aí a gente foi chamando mais músicos, entrou o Marco Lacerda, o Bruno Zé que era nosso percussionista, que Deus o Tenha, nosso parceiríssimo. Aí o negócio ficou tão bom dessa roda de Blues, a gente tinha uma química tão legal que, quando foram entrando essas pessoas, entrou também o Davi Taveira na gaita, o Daniel Taveira no Baixo, a gente viu que tava ficando bom o negócio, o som fluía bem, que a gente era bom no que a gente fazia, no Blues, como soava e tudo mais. E aí, a gente falou ‘vamos fechar essa roda de Blues e vamos fazer uma banda?’. A gente sentou para pensar qual seria o nome da banda. A gente pensou qual é a ideia da Caravana Cigana do Blues? A ideia é levar o Blues a todos os lugares possíveis e todas as pessoas para que o Blues chegue em lugares que ele normalmente, aqui nesse nicho tão fechado que a gente tem de Blues no Rio de Janeiro, a ideia é que a gente abra esse nicho. A ideia é que a gente chegue em mais pessoas que somente aquelas que já estão acostumadas e que já são fãs e que já vão em shows de Blues. E aí a gente chegou nesse acordo de que ele ia ser itinerante. A gente pensou ‘uma caravana’, porque somos uma caravana, uma banda de sete pessoas, era uma banda grande. Então é uma caravana, é uma coisa que vai para todos os lugares, ela é cigana porque não tem um lugar específico, ela vai indo de um lugar ao outro e do Blues, porque a gente tocava Blues tradicional. No início era Gipsy Blues Caravan, e aí depois a gente falou ‘não! A gente tá no Rio de Janeiro então a gente vai botar esse nome em português!’ e ficou Caravana Cigana do Blues que foi uma banda muito importante na minha formação enquanto musicista, minha formação do Blues para entender o caminho que eu queria seguir. Eu tenho muito orgulho de ter sido uma das primeiras fundadoras dessa banda que tem muita, muita história.
Dissonância: Sua espiritualidade, passando de uma origem judaica para a Umbanda, é um tema recorrente no seu trabalho. Como você lida com a intolerância religiosa no Brasil e qual mensagem você quer transmitir com isso em suas músicas?

Sonja: A minha espiritualidade, ela não passou de origem judaica para umbanda, não é como se eu tivesse mudado de um para o outro. Eu nasci judia, eu sou judia, serei sempre judia, tenho orgulho imenso de dizer que sou uma mulher judia. No passar desse tempo da minha vida, no meio disso eu descobri a Umbanda que foi uma religião que me acolheu, porque o judaísmo, para mim, ele vai além de uma religião. Ele é uma religião, mas antes de ser uma religião, antes de os judeus serem um povo que as pessoas olham e falam ‘o judaísmo é uma religião’, antes, muito antes de eles serem um povo da Torá e tudo mais, eles sempre foram um povo, entende? Eles sempre foram uma comunidade. Então o judaísmo, para mim, ele tá muito além de religião, ele é a minha ancestralidade, ele é a minha comunidade, ele é a minha tradição. O judaísmo é a minha raiz mais forte, é o meu povo, é a minha família, é a minha história, é quem eu sou. E isso vai muito além de uma religião. Isso é, de fato, espiritualidade, porque, para mim, a espiritualidade vai muito além, muito além de uma religião. O judaísmo é uma coisa que faz parte de mim e eu faço parte dele. Não tem como passar de judaísmo para outra religião. Eu tô falando de mim, não tem como isso acontecer, não como desvencilhar uma coisa da outra. Mas em questão de religião, a Umbanda foi uma religião que me acolheu em vários sentidos. E foi a religião que eu escolhi seguir porque eu vejo a Umbanda como uma religião de muito amor, de muito respeito e que faz parte de mim de alguma forma. Eu digo que eu sou judia e que tenho muita ligação com a Umbanda. Eu não chego a dizer que eu sou umbandista, porque eu não me sinto nesse lugar, mas a Umbanda faz parte da minha vida de uma forma muito forte também. E a Umbanda, as entidades dessa religião, essa espiritualidade que envolve essa religião, me ajudou diversas vezes durante a minha caminhada, a minha formação enquanto ser humano, tanto quando o judaísmo, porque o judaísmo tem uma presença ali na minha raiz, na minha formação enquanto pessoa, enquanto criança, enquanto membro de uma comunidade. Mas a Umbanda tem uma responsabilidade no que diz respeito a como estar no mundo, como ser, o que eu busco ser, ela me guia nesse sentido. Eu devo muito à espiritualidade da Umbanda por milhões de coisas que eu passei e posso dizer com muita certeza que eu só saí em pé, de cabeça erguida, porque eu tive a Umbanda me guiando. Foram caminhos muito tortuosos, difíceis, desafiadores e a Umbanda, na minha vida, teve um papel vital. Essa intolerância religiosa no Brasil, é muito difícil falar sobre isso porque são duas religiões que sofrem muita perseguição há muitos anos, muito antes de tudo, e eu entendo que eu tô nesse lugar. É muito difícil entender, primeiramente, perseguições, não estou falando historicamente, de entender historicamente, eu estou falando de entender como ser humano mesmo. Eu acho que tem muita falta de informação no mundo. Eu acho que as pessoas esqueceram o quão manipuláveis nós podemos ser quando a gente não sabe do que a gente tá falando. E que, mesmo que a gente busque conhecimento, a gente tem que ter muito cuidado de por onde a gente busca esses conhecimentos porque as fontes também estão manipuladas para que a gente conheça a história que eles querem que a gente conheça, da maneira que eles querem. Então, eu acho que muito dessa intolerância religiosa, principalmente do judaísmo vem de um lugar de desconhecimento das pessoas. Isso me entristece de uma maneira que eu nem gosto de falar. Mas devido as coisas que a gente como povo, como comunidade, já passou, eu acho que o que tá acontecendo, que está acontecendo, que sempre aconteceu, essa perseguição, eu acho isso muito perigoso. E eu acho que as pessoas não têm ideia da periculosidade disso. São histórias que a gente lembra para não se repetirem, mas que quando a gente vê, a gente já tá no meio dessa repetição. Enfim, como eu lido com essa intolerância religiosa? Eu não sei te dizer como eu lido com essa intolerância religiosa. Acho que ainda tô entendendo como eu faço para lidar. Do judaísmo é tanto no Brasil quanto no mundo, da Umbanda aqui no Brasil é uma coisa horrível também porque a gente vê pessoas repetindo padrões de inquisição, sabe? Onde as pessoas são proibidas de falar ou de agir na sua fé, na sua religião, fazer as suas rezas. Enfim, é difícil, para mim, falar sobre isso, porque me pega num lugar muito difícil. A intolerância religiosa é um dos assuntos que mais me entristecem, me leva para um lugar de muito questionamento, muita dor. Então, eu realmente não sei como responder porque na verdade eu não sei ainda como é que eu lido com intolerância. O que eu posso fazer é transmitir amor e algum tipo de cura através das minhas músicas, seja lá pro que for. Quando a gente emana o bem, quando a gente pensa e faz o bem, quando a gente tem boas intenções e bons pensamentos, a gente pode mudar muita coisa. Eu acho que as minhas músicas vêm muito nesse lugar, transmitir o contrário da intolerância.
Dissonância: Você já declarou que o disco Rainha de Copas reflete um momento de reencontro consigo mesma, especialmente após superar o vício em álcool e drogas. Como a música participou dessa cura e o que você diria hoje para a Sonja que estava atravessando aquele período mais sombrio?

Sonja: Sim é. O álbum Rainha de Copas, ele reflete esse momento de reencontro comigo mesma. E aí digo que eu não gosto de falar ‘o vício em álcool e drogas’ porque o álcool é uma droga, é a principal delas. Então eu falo que é ‘o vício em álcool e outras drogas’. Superar o vício é como se você estivesse se curando de um vício. A dicção que é como a gente chama esse vício em álcool e outras drogas, não é coisa que se cura, é uma coisa que a gente leva, é uma condição que a gente leva, é um transtorno mental, é uma doença que a gente leva pelo resto da nossa vida. Então, eu não digo assim que eu superei o vício, mas que todos os dias eu luto para que ele não me vença. É como se fosse um tratamento constante, uma doença em que você tem que acordar todo dia e tomar o seu remédio, porque se você não tomar seu remédio ela te pega. E a música, ela não foi uma cura. Na verdade, a música é sim uma cura. Não estou falando que ela me curou o vício, mas ela trabalha sim como uma cura. Mas a música ela foi importante no meu processo de reorganizar uma mente, um corpo, uma alma que estavam muito dessincronizados. Então, a música, ela veio em todo esse momento reorganizando essa bagunça, esse caos que estava dentro de mim. Ela era como uma sessão de terapia, mas de musicoterapia (risos). E o fato de eu botar para fora e transformar em uma coisa bela, porque a música é bela, só o fato de eu conseguir transformar o caos numa coisa bonita, sem romantizar aquilo ali, já é uma cura em si. Eu acho que muitas vezes, nesse processo de composição, as músicas vieram do meu inconsciente, era como se eu tivesse alguma coisa para escrever ali e para dizer, mas eu não soubesse de fato o que eu queria escrever. Às vezes, eu só sentava, abria o caderno e começava a sair; e aí, depois de muito tempo, eu entendia aquilo ali que eu tinha escrito. Porque, às vezes me vinham apenas palavras e frases e eu olhava aquilo e falava ‘cara, eu não tô falando nada com essa música’. Aí, depois de um tempo, quando eu vinha ali de novo, eu entendia. Eu acho que a gente, às vezes, está preparado para entender quando a gente está preparado para ver, enxergar. E isso é um processo de cura, um processo muito bonito de cura. E aí desse processo todo surgiu o Rainha de Copas. Eu ia sempre na cigana para pedir conselho e agradecer sobre as coisas da vida, para chorar também, e ela quis abrir o tarô para mim, ela abriu o jogo e falou que a carta da Rainha de Copas era a carta que me representava naquele momento e que eu tinha duas escolhas para fazer na minha vida: ou eu mudava de vida e fazia novas escolhas e ia no caminho da luz e indo por esse caminho eu conquistaria as coisas que eu queria conquistar, enfim; ou eu continuaria pelo caminho de trevas, digamos assim, em que eu estava e que nesse caminho eu não iria conquistar nada, porque hora ou outra eu não estaria mais aqui para poder construir alguma coisa. Eu saí de lá tão impactada de lá, depois dessa leitura, que fiz uma música chamada ‘The Queen of Cups’, eu escrevi ela em inglês, ‘A Rainha de Copas’ que falava sobre esse jogo de tarô, sobre essa caminhada, sobre as coisas que a cigana falou para mim. E aí quando eu tive a ideia de fazer o álbum, que foi nomeio da pandemia, eu peguei os escritos das letras e música que eu tinha feito durante todo esse processo que durou muitos anos da minha vida e eu tinha muito material. Eu percebi que tinha uma costura ali, do início do uso, do meio do uso e do final do uso e eu vi que eles não se confundiam, mas sim, o uso se misturava muito não só com o uso de substâncias, mas de pessoas também, de relacionamentos tóxicos também. Não era só o tóxico da droga, mas o tóxico dos relacionamentos que eu tinha. Aí eu pensei, cara, se eu fiz uma música para a rainha de copas que é uma carta do tarô, porque não encontrar uma carta que represente cada uma das músicas e cada um dos períodos que eu passei nessas músicas. E aí eu tive a ideia de juntar o Blues com o tarô, porque o Blues também tem muito disso, da espiritualidade dentro dele. Então eu juntei uma coisa na outra e aí nasceu o Rainha de Copas. E o que eu diria para a Sonja que estava atravessando aquele período mais sombrio, eu até poderia dizer para ela ir com calma, mas eu tenho certeza de que ela não ia me ouvir (risos). Eu tenho muito orgulho de toda a minha caminhada, eu não me arrependo. Graças a Deus eu estou viva para contar a história. Graças a Deus eu estou viva para colher os bons frutos que essa merda toda que eu fiz, me deu, porque a vida tá sempre agindo da melhor maneira para a gente. Essa foi uma frase que uma amiga minha me falou há dois dias, é uma frase tão óbvia, mas que fez um boom na minha cabeça. Eu acho que esse período que eu vivi foi exatamente isso, foi a vida agindo da melhor maneira para mim. Na verdade, tem uma coisa muito importante que eu falaria para ela, eu falaria: ‘Sonja não bote um cigarro na boca’. Eu falei que não tem nada que eu me arrependa, mas tem. O que eu me arrependo de tudo isso foi ter botado um cigarro na boca, de resto eu não me arrependo de nada, porque eu sou quem sou por conta das coisas que eu vivi.
Dissonância: Você celebra o orgulho LGBTQIAPN+ e o amor pela sua parceira. Como a sua identidade pessoal influencia as suas composições e o que você diria para fãs que se identificam com essa luta pela liberdade?

Sonja: Eu celebro o orgulho LGBT todos os dias, mesmo se eu não fosse, eu celebraria também, porque eu celebro as pessoas serem quem elas são. Principalmente quando isso envolve amor, então, sim, eu celebro todos os dias o orgulho e amor que eu tenho pelo amor da minha vida. Eu acho que essa identidade pessoal que todos nós temos. Todos nós somos seres individuais com personalidades individuais, eu acho que isso influencia as minhas composições porque sou eu escrevendo, né? Não tem como quem eu sou, não influenciar as minhas composições, é impossível. Quem eu sou influencia diretamente nas coisas que eu vivo, que eu sinto, que eu escrevo. E o que eu diria para os meus fãs que se identificam com essa luta pela liberdade, eu acho que a maior coisa que a gente poderia fazer é continuar existindo e isso é muito bonito, sim, porque há lugares em que a gente não pode existir dessa maneira. Há religiões em que a gente não pode existir dessa maneira. Há países, há comunidades onde a gente não pode existir dessa maneira. Então se a gente tem a possibilidade de existir dessa maneira, que a gente exista, entendeu? Eu acho que só o fato de a gente existir e não ter vergonha de sermos quem somos, já é uma luta pela liberdade, já é uma luta, eu acredito. Ser quem você é, dar a mão para quem você quiser, beijar quem você quiser, eu acho que isso já é uma luta pela liberdade. Falar
Dissonância: Comemorando 10 anos de parceria com sua banda e equipe, quais foram os maiores desafios e conquistas nessa década, e quais são os planos futuros para turnês e novos projetos musicais?

Sonja: 10 anos são 10 anos, não são 10 meses, nem 10 dias, nem 10 horas. 10 anos com essa parceria, porque já vai além de 10 anos, muito além de 10 anos. Minha carreira tem muito mais de 10 anos. Eu passei por tanta coisa: musicais, bandas de rock, enfim, muitas outras coisas. Mas 10 anos de parceria com essa banda incrível que eu tenho a benção de ter. Nossa! Uma banda incrível. Vou até dar um salve aqui para os meus companheiros de banda que são o Marco Lacerda, que é o produtor musical dos meus dois discos, é o Diretor Musical do meu trabalho, meu guitarrista. O Pedro Leão que é o meu baixista, que é uma pessoa que eu amo assim de todo o meu coração. O Tiago Didac, meu percussionista maravilhoso que também está com a gente há muito tempo. O Edu Coimbra que é nosso baterista que entrou há pouco tempo, mas parece que também já tem uma vida inteira junto com a gente. A nossa conexão, a minha com a minha banda, é uma coisa muito bonita. Realmente é um dos presentes mais preciosos que Deus me deu. Eu tenho muito a agradecer por ter esses meninos perto de mim. Os maiores desafio, a gente sempre está passando por desafios. A gente sempre está passando por conquistas. A gente teve muitas conquistas. Eu tive muitos sonhos realizados com muito trabalho, muita correria, muito acreditar que as coisas podem acontecer. Porque é isso, tem que juntar uma coisa na outra, acreditar, a gente tem que ser o nosso maior fã, nosso maior believer. Nós temos que ser os maiores apoiadores de nós mesmos. Eu acho que isso fez com que a gente conquistasse muita coisa. A gente viajou para tocar, a gente tocou em festivais, a gente teve muitas portas abertas, participou de programas de televisão, enfim. É muita coisa, desde a época da Caravana Cigana do Blues, eu lembro até hoje quando a gente fez uma viagem para Caxias do Sul e aí no ano seguinte a gente estava lá para tocar. Enfim, a gente conquistou muita coisa, foram dois discos de estúdio e agora a gente está lançando mais um ao vivo. Então são dois discos de estúdio, um EP ao vivo, um EP de estúdio, e agora a gente vai lançar o ‘ao vivo’ do Rainha de Copas. A gente pensa em turnês também, mas isso tudo aos pouquinhos. A gente prefere viver o agora, trabalhar no agora para a gente poder colher os frutos para frente. Esse ano a gente trabalhou bastante para que no ano que vem a gente possa rodar bastante com esse disco. Se Deus quiser a gente vai fazer essa turnê. Mas eu prefiro pensar no agora. Quando me perguntam essa coisa ‘ah, plano pro futuro’, gente eu não sei! Os planos para o futuro a gente faz aqui no presente esperando que a gente possa colher coisas no futuro, continuar plantando também no futuro, mas o futuro só a Deus pertence.

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